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A história de Kevin Mitnick contada por Kevin Mitnick

Sex

22

Jun

2007


21:09

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A provação

Depois da minha prisão fui transportado para a Prisão do Condado em Smithfield, Carolina do Norte, onde o U.S. Marshals Service ordenou que os carcereiros me colocasse 'no buraco' - a solitária. Dentro de uma semana, os procuradores federais e meu advogado chegaram num acordo que não pude recusar. Eu poderia sair da solitária sob a condição de abrir mão dos meus direitos fundamentais e de concordar com: a) sem audiência de fiança; b) sem audiência preliminar e c) sem ligações telefônicas, exceto para meu advogado e para dois membros da família. Era só assinar e eu sairia da solitária. Assinei. Os procuradores federais usaram todos os truques sujos até que fui libertado quase cinco anos mais tarde.

Fui repetidamente forçado a abrir mão dos meus direitos só para ser tratado como qualquer outro acusado. Mas este era o caso Kevin Mitnick: não havia regras. Não havia necessidade de respeitar os direitos constitucionais do acusado. Meu caso não era uma caso de justiça, mas a determinação do governo de vencer a qualquer custo. Os procuradores haviam feito queixas absolutamente exageradas à corte sobre o estrago que eu havia causado e o perigo que representava, e a mídia espalhava as declarações sensacionalistas; agora era muito tarde, os procuradores não podiam voltar atrás. O governo não podia se dar ao luxo de perder o caso Mitnick. O mundo estava observando. Acredito que as cortes entraram no clima de temor criado pela cobertura da mídia porque muitos dos jornalistas mais éticos pegaram os "fatos" do conceituado New York Times e os repetiram. O mito criado pela mídia aparentemente atemorizou até os carcereiros.

Um documento confidencial obtido por meu advogado mostrou que o U.S. Marshals Service havia divulgado uma advertência para todos os agentes penitenciários para nunca revelar qualquer informação pessoal para mim, caso contrário poderiam ter suas vidas eletrônicas destruídas. Nossa Constituição exige que o acusado seja considerado inocente antes do julgamento, garantindo a todos os cidadãos o direito de uma audiência de fiança onde o acusado tem a oportunidade de ser representado por um advogado, evidência presente e testemunhas. Inacreditavelmente o governo foi capaz de contornar estas proteções baseadas numa falsa histeria gerada por repórteres ireesponsáveis como John Markoff.

Sem precedentes, fui mantido como prisioneiro pre-julgamento - uma pessoa em custódia sem julgamento ou sentença - por mais de quatro anos e meio. A recusa do juiz em me dar uma audiência de fiança tramitou todo o caminho até a Suprema Corte dos EUA. No fim, minha equipe de defesa me informou que eu representava mais um precedente: eu era o único prisioneiro federal na história dos EUA ao qual foi negado uma audiência de fiança. Isto significava que o governo nunca se teria o trabalho de provar que não havia condições de liberdade que garantissem meu aparecimento no tribunal. Pelo menos neste caso os promotores federais não se deram o trabalho de alegar que eu poderia iniciar uma guerra nuclear assobiando num telefone público, o que outros promotores federais haviam feito num caso anterior. As acusações mais sérias contra mim eram que eu havia copiado código fonte proprietário para vários telefones celulares e sistemas operacionais mais conhecidos.

Ainda assim os procuradores alegaram publicamente e para a corte que eu havia causado perdas acima de US$300 milhões para várias companhias. Os detalhes do montante da perda ainda estão sob sigilo, supostamente para proteger as companhias envolvidas; minha equipe de defesa, no entanto, acredita que a solicitação dos procuradores para o sigilo foi iniciada para acobertar sua grosseira conduta ilegal no meu caso. Também é importante notar que nenhuma das vítimas no meu caso relataram qualquer perda à Securities and Exchange Comission, como a lei requer. Ou várias companhias multinacionais violaram a lei federal - no processo, enganando o SEC, bolsas de valores e analistas - ou as perdas atribuídas ao meu hacking foram na realidade tão triviais que não foram informadas.

No seu livro The Fugitive Game, Jonathan Li Wan conta que, na semana da história de primeira página do New York Times, o corretor de Markoff "agenciou um pacote de acordo" com a Walt Disney Hyperion para um livro sobre a campanha para derrubar. O adiantamento estava estimado em US$750.000. De acordo com Littman, também seria rodado um filme em Hollywood, com a Miramax pagando mais de US$200.000 pela opção e "um total de US$650.000 a ser pago no início da filmagem". Uma fonte confidencial me informou recentemente que o acordo de Markoff foi muito maior do que Littman imaginou inicialmente. Assim, John Markoff embolsou mais ou menos um milhão de dólares enquanto eu recebi cinco anos de cadeia.

Considerações finais

Apesar das descrições ultrajantes e difamatórias de John Markoff, meus crimes foram simples crimes de invasão de computadores e fazer algumas chamadas telefônicas de graça. Depois da minha prisão entendi que minhas ações foram ilegais e que eu pratiquei invasão de privacidade.

Mas para sugerir, sem justificativa, razão ou prova, como fez Markoff em seus artigos, que eu havia tirado dinheiro ou bens de pessoas usando o computador ou através de fraude telefônica, é simplesmente uma mentira e não existe nenhuma evidência que o comprove. Meus mal-feitos foram motivados pela curiosidade: queria saber o máximo possível sobre como as redes de telefone funcionavam e tudo e mais alguma coisa sobre a segurança de computadores. De uma criança que adorava mostrar seus truques de mágica me transformaram no hacker mais conhecido do mundo, temido pelas corporações e pelo governo.

Quando penso nos últimos trinta anos da minha viada, admito que tomei algumas decisões lastimáveis, guiadas pela minha curiosidade, pelo desejo de aprender tecnologia e por um bom desafio intelectual. Agora sou uma pessoa mudada. Estou dirigindo meus talentos e meu extenso conhecimento adquirido sobre segurança da informação e táticas de engenharia social para ajudar governos, empreendimentos e pessoas a prevenir, detectar e responder a ameaças na segurança da informação. Este livro é mais uma maneira que encontrei para usar minha experiência para ajudar os outros a evitar os esforços dos ladrões de informação mal-intencionados deste mundo. Acho que você vai achar as histórias divertidas, elucidativas e educacionais.

--- Kevin Mitnick ---

Fonte

Kevin Mitnick's story de Thomas C. Green, publicado em 13 de janeiro de 2003. Tradução livre da vovó Vicki vovo

Kevin Mitnick e William Simon escreveram o livro "The Art of Deception" (A Arte da Ilusão).

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