A história de Kevin Mitnick contada por Kevin Mitnick
Sex 22 Jun 2007 21:09 |
- Detalhes
- Categoria: Mundo hacker
- Atualização: Terça, 21 Abril 2009 20:03
- Autor: vovó Vicki
- Acessos: 22146
Tornando-me um engenheiro social
Algumas pessoas saem da cama toda manhã com medo da rotina diária de trabalho nas proverbiais minas de sal. Eu tenho tido a sorte de gostar do meu trabalho. Em particular, você não pode imaginar o desafio, a recompensa e o prazer que tive no tempo em que era investigador particular. Estava burilando meus talentos na arte da representação chamada engenharia social - conseguindo que pessoas fizessem coisas que normalmente não fariam para um estranho - e sendo pago por isto. Não foi difícil me tornar um perito em engenharia social. O lado da família do meu pai atuava na área de vendas há gerações, de modo que devo ter herdado a arte de influenciar e persuadir. Quando se combina uma tendência para iludir pessoas com os talentos da influência e da persuasão, o resultado é o perfil de um engenheiro social.
Pode-se dizer que existem duas especialidades na classificação de trabalho do artista da contravenção. Alguém que engana e trapaceia pessoas para tirar-lhes dinheiro pertence a uma sub-especialidade, o estelionatário. Alguém que usa fraude, influência e persuasão contra negócios, geralmente visando obter informações, pertence a outra sub-especialidade, o engenheiro social. Desde a época do meu truque com passagens de ônibus, quando era muito criança para saber que estava fazendo coisa errada, comecei a reconhecer um talento para descobrir segredos. Investi neste talento usando fraude, conhecendo o jargão e desenvolvendo uma capacidade muito elaborada de manipulação. Uma das maneiras que usava para desenvolver habilidades no meu ofício (se é que posso chamá-lo de ofício) era escolher algum pedaço de informação sem importância e ver se conseguia obtê-la de alguém do outro lado do telefone, só para me aperfeiçoar. Do mesmo modo costumava treinar truques de mágica.
Através destes ensaios, logo descobri que poderia obter praticamente qualquer informação que pretendia. Alguns anos mais tarde, num testemunho no Congresso diante dos senadores Lieberman e Thompson, contei que "Obtive acesso não autorizado a sistemas de computadores em algumas das maiores corporações do planeta e invadi com sucesso alguns dos sistemas de computadores mais resistentes. Usei meios técnicos e não-técnicos para obter o código fonte de vários sistemas operacionais e de dispositivos de telecomunicação para estudar suas vulnerabilidades e seu funcionamento interno". Tudo isto foi apenas para satisfazer minha curiosidade, ver o que poderia fazer e para descobrir informações secretas sobre sistemas operacionais, telefones celulares e qualquer coisa que cutucava a minha curiosidade. A avalanche de eventos que mudaria a minha vida começou quando me tornei o assunto de primeira página do New York Times em 4 de julho de 1994. Do dia para a noite, esta história transformou minha imagem de hacker incômodo e pouco conhecido no Inimigo Número Um do ciberspaço. [De acordo com] John Markoff, "Combinando magia tecnológica com uma malícia de anos de estelionatário, Kevin Mitnick é um programador de computadores enfurecido" (The New York Times, 7/4/94).
Combinando o desejo de anos de obter fortuna não merecida com o poder de publicar histórias falsas e difamatórias na primeira página do New York Times, o repórter de tecnologia John Markoff foi o único verdadeiramente enfurecido. Markoff estava para ganhar mais de um milhão de dólares com a invenção do que eu chamei de "O Mito de Kevin Mitnick". Ele se tornou muito rico usando exatamente a mesma técnica que utilizei para comprometer sistemas de computadores e redes em todo mundo: ilusão. Neste caso, no entanto, a vítima da ilusão não foi um único usuário de computador ou administrador de sistema, foram todas as pessoas que confiavam nas notícias publicadas nas páginas do New York Times.
Mais procurado do ciberespaço
O artigo de Markoff foi claramente projetado para desembocar num contrato para um livro sobre a história da minha vida. Nunca encontrei Markoff e, ainda assim, ele literalmente se tornou um milionário devido à sua "reportagem" caluniosa e difamatória a meu respeito no Times e no seu livro de 1991, Cyberpunk.
No seu artigo ele incluiu algumas dúzias de alegações sobre mim, declaradas como fatos sem citar as fontes, que não resistiriam a um processo de checagem de fatos mínimo (o que pensei que todos os jornais de grande circulação exigiriam de seus repórteres) porque se revelariam inverídicas e não provadas. Neste único artigo falso e difamatório, Markoff me rotulou como "mais procurado do ciberespaço" e como "um dos mais procurados criminosos da nação" sem qualquer justificativa, razão ou evidência, usando menos discrição que um escritor de tablóide de supermercado. No seu artigo difamador, Markoff alegou com falsidade que eu havia grampeado o FBI (eu não havia feito isto); que eu havia invadido os computadores do NORAD (que não estão conectados a qualquer rede externa) e que eu era um "vândalo" de computadores, apesar do fato de que nunca havia intencionalmente causado prejuízo a qualquer computador que tivesse acessado.
Estas, entre outras alegações estranhas, eram totalmente falsas e criadas para criar um clima de temor a respeito das minhas capacidades. Em mais uma das quebras da ética jornalística, Markoff evitou divulgar neste artigo, e em todos os subsequentes, um contato prévio entre nós dois e uma animosidade pessoal baseada no fato de eu ter-me recusado a participar do livro Cyberpunk.
Somando-se a isto, como eu havia recusado renovar uma opção para um filme baseado no livro, ele havia perdido a possibilidade de um bom ganho adicional. O artigo de Markoff obviamente também foi escrito para insultar as agências de execução legal dos EUA. "... execução (L)egal", escreveu Markoff, "parece não dar conta dele...". O artigo foi deliberadamente tramado para me transformar no Inimigo Público Número Um do ciberespaço e assim influenciar o Departamento de Justiça para aumentar a prioridade do meu caso. Alguns meses mais tarde, Markoff e seu comparsa Tsutomu Shimomura iriam participar da minha prisão como agentes governamentais de facto, violando tanto leis federais quanto a ética jornalística. Os dois também estariam por perto quando três mandados de busca em branco foram usados para revistar ilegalmente a minha residência e estariam presentes na minha prisão. E, durante a investigação das minhas atividades, os dois também violariam leis federais interceptando uma das minhas ligações telefônicas particulares.
Enquanto fazia de mim um vilão, Markoff, num artigo subsequente, transformou Shimomura no herói número um do ciberespaço. Novamente ele estava violando a ética jornalística porque não informou um relacionamento pre-existente: este herói, na verdade, há anos era um amigo pessoal de Markoff.