Babel dos Garranchos
Origem dos Alfabetos
Qui 4 Jan 2007 10:21 |
- Detalhes
- Categoria: A escrita
- Atualização: Segunda, 16 Março 2009 00:01
- Autor: vovó Vicki
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O surgimento da escrita, 4000 anos antes de Cristo, significou o advento de uma tecnologia fundamental para o desenvolvimento do ser humano na face da Terra. Ao preservar seus pensamentos, técnicas e emoções numa série de traços, o homem foi capaz de acumular e produzir conhecimentos que, mais tarde, dariam origem à filosofia, às ciências e às artes.
Civilizações
A região do Oriente Médio era (e continua sendo) uma área de alta tensão, com guerras intermináveis entre os povos da região. Se por um lado havia guerra e escravidão, por outro havia uma intensa troca de informações políticas e comerciais e a escrita tornou-se uma necessidade.
As mais antigas civilizações da região foram a SUMERIANA e depois a ACADIANA. A ESCRITA CUNEIFORME provavelmente foi inventada pelos sumérios, a partir da escrita pictográfica (por imagens). Escreviam em tabletes de argila - alguns foram encontrados na região de Uruk, escritos ao redor de 3000 a.C. Nesta época havia uma mistura de imagens e de caracteres cuneiformes até que, em 2500 a.C., o sistema de escrita sumeriano-acádico era composto apenas por caracteres cuneiformes. Apesar da simplificaçao, continuava muito complicado: o "alfabeto", uma mistura de caracteres e símbolos para letras, sílabas e outras peculiaridades, era composto por cerca de 600 símbolos.
Depois os amorreus tomaram conta da região e fundaram a Babilônia. Pilhada pelos hititas, Babilônia foi conquistada pelos cassitas em 1746 a.C. No século 16 a.C. apareceram os hurritas que, aliados aos egípcios, combateram os hititas. Um outro povo, os assírios, dominou a Babilônia a partir do séc. 12 a.C., enquanto os hebreus se instalavam na Palestina (séc. 10 a.C.). Os assírios, com Assurbanipal, continuaram sua expansão em detrimento de Israel e do Elam, mas, por sua vez, foram vencidos pelos medos, ajudados pelos babilônios, que fundaram o Império neobabilônico. Nabucodonosor II (séc. 6 a.C.) conquistou Jerusalém e levou os judeus para a Babilônia. O persa Ciro, porém, esmagou os medos e babilônios e fundou o Império persa arquimênida. Alexandre, o Grande, destruiu-o (330-323 a.C.) e helenizou a Ásia até o Indo.
Já o Oriente Próximo, também conhecido como Oriente Clássico, caracterizava-se pelo processo sucessório nos seus impérios e, por isso mesmo, por uma atividade e por uma troca cultural intensa.
Mesopotâmia
O mapa da Mesopotâmia, a região entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio, mostra a época e o lugar em que surgiram os primeiros rudimentos da escrita.
As mais antigas inscrições descobertas até hoje foram achadas em Uruk — a atual cidade de Warka, no sul do Iraque — e datam de 3.300 antes de Cristo. Como os sinais eram formados por um junco ou cabo de madeira que deixava um traçado semelhante a uma cunha, esse tipo de escrita recebeu o nome de cuneiforme (de cuneus, termo latino que significa cunha).
Usado para controlar as mercadorias que entravam e saíam dos palácios e templos mesopotâmicos, o cuneiforme era inicialmente uma escrita pictográfica: a idéia de boi, por exemplo, era representada por sinais que lembravam a cabeça desse animal, enquanto o desenho do sol surgindo no horizonte significava o dia.
Aos poucos ela foi se tornando cada vez mais abstrata. As idéias passaram a ser expressas por sinais — cada um com seu valor fonético — e não mais através de desenhos. No segundo milênio antes de Cristo, a escrita cuneiforme era corrente em todo o Oriente Próximo, tanto que passou a gravar não apenas a língua dos sumérios, os primeiros habitantes da região, mas também a dos semitas, assírios e babilônios.
Na região do rio Nilo usava-se a escrita hieroglífica egípcia, que surgiu por volta do ano 3000 antes de Cristo. Durante o Antigo Império, que data de meados do terceiro milênio antes de Cristo, esse tipo de escrita era composto por cerca de 1.000 sinais. Devido a esta complexidade, os escribas eram os homens mais admirados do Egito antigo e chegaram a ser adorados como deuses. O médico, o arquiteto, o sacerdote e até mesmo o faraó egípcios eram, antes de tudo, escribas.
Havia ainda os sistemas de escrita dos povos que habitavam a região do Mar Egeu — o hieroglífico, o Linear A e o Linear B. Os mais antigos registros desses sistemas datam do período chamado pelos especialistas de Minóico Médio (de 1900 a 1700 antes de Cristo) e foram encontrados na Ilha de Creta. O aparecimento dessas escritas está ligado ao desenvolvimento de sistemas econômicos e políticos caracterizados pela centralização administrativa em grandes centros urbanos e palaciais. Decifrado em 1957, o Linear B — que substituiu os hieroglifos e o Linear A — revelou tratar-se de uma conotação da língua grega. Ele testemunha, já no segundo milênio antes de Cristo, a adoração a Zeus, Hera e outras divindades do panteão grego.
Ugarit e Fenícia
Embora a sistematização do alfabeto seja atribuída aos fenícios, há vestígios de uma escrita alfabética anterior ao sistema desenvolvido por aquele povo.
Os únicos exemplos desta escrita proto-sinaítica são cerca de 30 inscrições datadas do ano de 1600 a.C. encontradas em Serabit el Khadim, na península do Sinai. Ainda que essa escrita pictográfica seja próxima dos sinais egípcios, ela registra um alfabeto que teve, desde o segundo milênio antes de Cristo, um sucesso inesperado, destacando-se sua influência nos alfabetos de Ugarit e da Fenícia.
A escrita de Ugarit, descoberta nas ruínas da cidade de Ugarit, representa o início do processo de democratização do saber. Os sistemas que precederam essa forma de escrita utilizavam um sinal para cada palavra ou sílaba, o que tornava necessária uma quantidade imensa de sinais, acessível apenas a iniciados nessa técnica. Esta escrita, que é gravada na forma de cuneiformes e por isso é vista como um "cuneiforme alfabético", facilitou as coisas. Ela tem 30 sinais, cada um deles designando uma letra, como nos alfabetos modernos. Os escribas de Ugarit conheciam o alfabeto proto-sinaítico e aplicaram o seu princípio usando cuneiformes, que se tornaram assim muito mais simples do que os primeiros cuneiformes mesopotâmicos. Guardar na memória trinta sinais estava ao alcance de muitos, lembrar-se de centenas de sinais com valores diferentes era exclusividade de uma elite. O ugarítico, datado do século 14 antes de Cristo, é o mais antigo alfabeto completo conhecido.
Mas foi, de fato, com os fenícios que o alfabeto se expandiu. Além de ter sido amplamente divulgado pelo mundo antigo e servido para gravar línguas como o aramaico e o hebreu antigos, o alfabeto fenício inspirou outros povos a criar seus próprios alfabetos. O mais famoso resultado desse processo é o alfabeto grego, em grande parte devedor da invenção fenícia. Com 22 sinais, o alfabeto fenício foi utilizado por volta do final do século 12 antes de Cristo.
Grécia
A escrita Linear B foi usada pelos gregos até o século 12 antes de Cristo. Depois de três séculos em que parece não se ter conhecido nenhuma forma de escrita na Grécia continental, surgiu uma escrita alfabética distinta da Linear B, adaptada pelos gregos a partir do alfabeto fenício. Contando com 24 caracteres, incluindo consoantes e vogais, esse sistema de escrita alfabética grega foi uma das maiores contribuições culturais para o mundo ocidental, pois em sua origem situa-se a família dos alfabetos que dominam o Ocidente, pela herança etrusca e, em seguida, latina.
Os etruscos, povos que ocupavam a costa ocidental da Itália e fizeram contatos com os gregos a partir do século 8 antes de Cristo, foram os intermediários entre o alfabeto grego e o latino. A história do alfabeto latino depois do século 1 antes de Cristo resumiu-se à sua adaptação a várias línguas e à transformação das letras capitais nos estilos cursivos. Com a dissolução do Império Romano, deu-se uma mudança notável no desenvolvimento da escrita cursiva latina, aparecendo em vários lugares da Europa Ocidental o que podemos chamar de estilos 'nacionais' de escrita cursiva minúscula.
Alfabetos semíticos
Hebraico
Entre os valores culturais que os hebreus adotaram dos habitantes de Canaã está a arte de escrever, o que deve ter ocorrido entre os séculos 12 a 11 a.C. Pode parecer estranho, mas as primeiras características próprias de escrita hebraica podem ser observadas nas inscrições moabitas do século 11 a.C., especialmente na inscrição que menciona o pai de Mesha, Kemosyat, e a famosa Pedra do Moab. Apesar da linguagem ser moabita, um dialeto cananeu, parente do hebreu porém não idêntico, sua escrita é hebraica. Estas inscrições moabitas ilustram a primeira etapa da tradição escritural hebraica.
A Pedra do Moab, de basalto negro, é um documento histórico da Bíblia, Reis 2, 3:4-27. Possui uma inscrição de 34 linhas e descreve os triunfos de Mesha, rei de Moab, sobre a casa de Omri, rei de Israel. Infelizmente a Pedra do Moab foi quebrada por árabes que pretendiam ganhar mais vendendo os pedaços do que vendendo a pedra inteira.
São várias as inscrições moabitas usando o alfabeto hebreu encontradas, desde vasos com inscrições até pedras mostrando um calendário com o ciclo agrícola das estações do ano.
Escavações realizadas na Samária entre 1908 e 1910 revelaram várias inscrições habraicas feitas com TINTA em tabletes de argila. Estavam nos depósitos do palácio real e serviam para controlar estoques de vinho e óleo. Por exemplo, bst htst myst l'hnw'm (n)bl y(n) ysn significa "No ano noveno de (o nome não é citado), rei de Israel, se comprou uma jarra de vinho, pertencente a Ahinoam."
Os tabletes encontrados em Tell Kassileh são certificados de embarque de certas quantidades de azeite e ouro com destino à Fenícia ou Egito. Nestes, a escrita era feita por incisão na argila.
Os tabletes da Samária e de Tell Kassileh datam do século 8 a.C. Nesta mesma época os selos eram utilizados para assinar (ou selar) documentos, e o selo possuía a força de uma assinatura real. Nenhum documento era considerado autêntico a menos que possuísse a impressão de um selo. Os selos particulares mais importantes são os que contém nomes de homens e mulheres de Israel, como o famoso selo do leão, encontrado em Meguido cuja leitura é: 'Shema servo de Jeroboam'.
Inscrições em pedra, selos, timbres e sobretudo tabletes, são provas do desenvolvimento da grafia hebraica. Especialmente importantes são os tabletes. Alguns são incisões em barro, porém a maioria foram escritos com tinta. Entre eles, os mais famosos são as cartas de Laquis, do século 6 a.C. (época em que foi escrito o Livro de Jeremias).
O autor é Hoshayahu, um dos subordinados de Yaush, que comandava a guarnição de uma das cidades provinciais na estrada que ia de Laquis até Jerusalém. Hoshayahu escreve ao seu comandante num tom muito humilde depois das saudações convencionais no início da carta: "Que Jeová queira que meu senhor ouça boas novas de paz".
Estas cartas foram escritas num momento muito delicado. Foi durante o reinado de Sedequías enquanto Jerusalém estava sediada pelas tropas de Nabucodonosor. Jerusalém foi sitiada em 597 a.C. e, dez anos mais tarde, cairia em poder dos caldeus.
O ocaso hebreu
Até a destruição do templo, o sistema hebreu de escrita continuou sendo usado, reflexo da tradição nacional de escrita. Seu curso, porém, foi interrompido pela destruição do templo e pelo exílio das classes mais educadas que haviam estudado na Babilônia. Quando os judeus regressam do cativeiro, falam e escrevem aramaico. O aramaico era a língua oficial do império Persa e também da província de Judá, chamada Yehud. Apenas os poucos que não haviam sido exilados ainda falavam e escreviam hebraico, mas não resisitram e o aramaico prevaleceu. O uso do hebraico arcaico aparece nos tempos do segundo templo, principalmente em moedas e em fragmentos do Pentateuco, achados em Qumran. A última notícia conhecida do uso deste sistema pelos judeus são as moedas de Bar Kochba que circularam de 132 a.C. até 5 d.C.
Evolução do hebraico arcaico até o samaritano medieval
Gezer século 10 a.C. | |
Moab século 9 a.C. | |
Siloé século 8 a.C. | |
Selos século 7 a.C. | |
Arad século 4 a.C. | |
Levítico século 2 a.C. | |
Samaritano Medieval |
Fontes
- Roberto C. G. Castro para o Jornal da USP.
- PROEL - Promotora Espanhola de Linguística
- World History Online
- Akhenaten's World
- Perry-Castaneda Library Map Collection.