Babel dos Garranchos
A língua portuguesa
Seg 8 Jan 2007 19:26 |
- Detalhes
- Categoria: A escrita
- Atualização: Segunda, 08 Janeiro 2007 21:56
- Autor: vovó Vicki
- Acessos: 9397
Há algum tempo atrás criei o Grossário de Hortografia Expessial onde vou colecionando erros ortográficos cabeludos e expressões idiomáticas que, no mínimo, podem ser consideradas estranhas. O propósito não foi (e continua não sendo) o de ridicularizar quem quer que seja, mesmo porque a história nos ensina que a língua portuguesa já passou por momentos muitos difíceis... ou seriam diphysseis?
Os idiomas são "seres" vivos em constante mutação, muito inquietos, altamente susceptíveis às influências do meio ambiente e dependentes das condições políticas e sociais. O linguajar das pessoas que falam o Português não é uma exceção à regra: a língua portuguesa em cada um dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) tem um tempero particular. Tanto é verdade que não é difícil distinguir um cidadão português de um brasileiro se ouvirmos o que eles têm a dizer, ou melhor, como eles dizem as coisas.
A forma escrita de uma língua, regida por regras de ortografia e gramática, vive correndo atrás da forma falada. O processo para estabelecer as regras depende de muita discussão e de consenso, o que faz com que seja demorado. Quando, finalmente, as regras são oficializadas, a língua falada já está disparada na frente.
Ortografia
A ortografia da língua portuguesa passou por várias fases. Até o século 16, cada um escrevia as palavras como achava melhor, guiando-se pelo som das mesmas. Era uma salada só, mas o pessoal entendia e não achava esquisito. Tanto é verdade que a Coroa Portuguesa, quando recebeu a carta de Caminha relatando o descobrimento do Brasil, não viu nada de excepcional na forma como foi escrita. Começava assim:
Datada deste porto seguro davosa jlha da vera cruz oje sesta feira primeiro de mayo de 1500...
Não é brincadeira, a carta começa assim mesmo! :roll2:
Algum tempo mais tarde, influenciados pelo movimento renascentista, os letrados resolveram dar um toque de língua de cultura ao Português. Foi aí que se começou a abusar do ph, das consoantes duplas e, principalmente do y. Achando que o bonito era o complicado, o pessoal optou por escrever pharmácia, typographia, collega, therapia, lyrio, scriptura, etc. Como cada escritor queria enfeitar mais do que o outro, cada um inventava firulas diferentes e a orthographia virou um verdadeiro chaos. O espantoso é que, apesar de alguns protestos, esta forma de grafia perdurou até o início do século 20!
Ortografia no Brasil
O Brasil não escapou desta tormenta. Depois de muito vaivém, aceitamos o projeto português de simplificação da ortografia de 1911 oficializando-o definitivamente vinte e sete anos mais tarde, ou seja, em 1938. Ainda assim existiam muitas diferenças entre a ortografia brasileira e a portuguesa. Resultado? Novas rodadas de negociação entre os dois países e, em 1943, aceitamos o novo Vocabulário de Ortografia.
Você está sentado? Pois prepare-se: a ortografia vigente no Brasil é a do acordo luso-brasileiro de 1943. Este acordo foi sancionado pelo Decreto-Lei n° 2.623 de 21 de outubro de 1955 e simplificado pela Lei n° 5.765 de 18 de dezembro de 1971. Nada mais e nada menos do que isto.
Bem, se a coisa está neste pé, quem sou eu para criticar a galera que resolveu tomar as rédeas desta ortografia jurássica? Porque não escrever aki ao invés de aqui (não falamos o "u" mesmo), porque não deixar o trema de lado (este negócio de escrever seqüência e ambigüidade representa mais dois toques no teclado), porque escrever xampu se não tem uma única embalagem com esta identificação? Tá certo que não é legal avacalhar nosso Português verde-amarelo, mas ficar brigando o resto da vida com c, ç, s, ss, sc, x, xc e z é uma covardia. Na minha modesta opinião, está mais do que na hora de ajustar nossa ortografia ao século 21.
Saudações pt