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Criptografia Numaboa

A inteligência da comunicação nos EUA

Seg

2

Abr

2007


11:25

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Este texto baseia-se no documento designado como SRH-149, escrito pelo Capitão da Marinha dos EUA, Laurence F. Safford, em março de 1952. Não é um relato oficial, mas contém informações que foram consideradas sigilosas até março de 1982, quando foi retirado da lista de documentos classificados pelo diretor da NSA (National Security Agency).

O Departamento de Guerra

COMINT vem de COMmunications INTelligence - Inteligência da Comunicação. Antes de 1917, a atividade dos EUA neste campo era esporádica e há poucos registros sobre ela. Em geral, considera-se que a história da criptoanálise norte-americana teve início com a entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial. Os códigos e cifras desta época, mesmo os usados para protegerem as informações mais sensíveis, eram bastante ingênuos - sistemas de cifras com codificação e aplicação manual, geralmente apoiados em livros de código de dupla entrada. O ataque a estes sistemas exigia apenas habilidades e paciência, motivo pelo qual um pequeno grupo de lexicógrafos, matemáticos e pessoas que haviam adquirido alguma prática construindo cifras por hobby foi o responsável pela "quebra" de códigos entre 1917 e 1919.

O Departamento de Guerra criou o primeiro escritório de criptoanálise em junho de 1917 e deu a sua chefia a H. O. Yardley, um ex-telegrafista do Departamento de Estado. Inicialmente havia três funcionários. No final da Primeira Grande Guerra o serviço contava com várias seções funcionais, 150 funcionários e um orçamento anual de US$ 100.000. Mesmo aplicando medidas de segurança precárias e usando métodos exclusivamente manuais, o grupo ganhou respeito e admiração pelo volume do trabalho realizado e pelos resultados obtidos.

Apesar do sucesso, a partir de 1921 o orçamento foi sendo gradativamente reduzido, chegando à soma irrisória de US$ 25.000 por ano. Não havia pesquisa, não havia treinamento e nem interceptações ou estudos para encontrar direções. A força de trabalho foi reduzida para seis pessoas. O golpe de misericórdia veio em 1929 com a nomeação do Secretário de Estado Stimson que transferiu os registros e os bens materiais da "American Black Chamber" (Gabinete Negro dos EUA) de Yardley para o Signal Corps do exército.

A Marinha

Na mesma época, o Departamento da Marinha não realizou nenhum trabalho na área da criptoanálise. Em compensação, criou estações de rastreamento de direção em ondas médias em toda a costa do Atlântico para observar a movimentação de submarinos alemães. Depois do armistício, estas estações continuaram em pleno funcionamento, sendo utilizadas como auxílio à navegação até 1941, quando este "serviço de navegação D/F" foi entregue para a Guarda Costeira. Os EUA foram os líderes nas ondas médias, mas falharam solenemente no desenvolvimento do rastreamento de direção de alta frequência (HF D/F).

Em 1917 e 1918, a Marinha dos EUA constituiu uma organização integrada (a Code and Signal Section of Naval Communications) para compilar, produzir, distribuir e organizar códigos e cifras. A Seção de Publicação Registrada (Registered Publication Section) foi separada da Seção de Códigos e Sinais (Code and Signal Section) em 1923 e sua função foi ampliada para incluir um número de registro e a distribuição e organização de todos os documentos secretos e confidenciais preparados pelo Departamento da Marinha.

Hebern
Fig.1 - Máquina Cifrante de Hebern (propriedade de Nicholas Gessler)

Nestes dois anos, a Marinha dos EUA dependia essencialmente da orientação criptográfica fornecida pelo Almirantado Britânico, cujo famoso "Room 40" liderava a criptoanálise da época. A Seção de Códigos e Sinais, com uma força de trabalho muito reduzida depois do armistício, foi gradualmente compilando uma reserva de guerra de códigos e cifras além de fazer planos de melhoria técnica. Em 1922 a Marinha reconheceu que o futuro das comunicações secretas dependeria essencialmente de máquinas cifrantes e não mais dos sistemas manuais que então eram utilizados. Por este motivo, financiou o desenvolvimento da Electric Cipher Machine (ECM). Em 1931 a Marinha já havia testado e descartado o modelo impressora-dupla da Máquina Cifrante Hebern e fez um pedido de 30 máquinas Hebern do modelo impressora-única para testes. Enquanto a ECM não ficava pronta, uma forma precoce de "cifra de fita" foi adotada na transição do uso de códigos para o uso de cifras. O Exército dos EUA analisou superficialmente o projeto da ECM e tentou convencer a Marinha a abandoná-lo - é claro que o clima de "colaboração" entre as duas armas não era dos melhores.

Em 1924 a Marinha criou uma organização de inteligência da comunicação subordinada à Seção de Códigos e Sinais do Escritório Naval de Comunicações com o nome de "Research Desk". Um oficial e quatro civis foram alocados para o trabalho. Mais tarde, dois militares operadores de rádio completaram a equipe. Sua primeira tarefa foi a construção de estações de interceptação na área do Pacífico, o que permitiu que a Unidade de Criptoanálise da Marinha começasse a funcionar, treinasse seu pessoal e fizesse planos de expansão. O treinamento seria feito através de manuais técnicos (que ainda precisavam ser elaborados), métodos por correspondência e um alistamento temporário "para instruções" em Washington. À medida que o pessoal qualificado se tornava disponível, as estações de interceptação entraram em funcionamento mais ou menos nesta ordem: Xangai, Oahu (Hawai), Pequim, Guam, Manila, Bar Harbor (Maine), Astoria (Oregon) e Washington, D.C. Atividades de interceptação menores foram acionadas posteriormente em várias estações (HF) D/F "estratégicas". Unidades de Inteligência Avançada (decifração) foram montadas na área de Manila em 1932 e em Pearl Harbor em 1936 servindo, respectivamente, a CINCAF e a CINCPAC.

No início de 1935, oficiais da reserva selecionados foram enviados para Washington, a maioria para um "cruzeiro de treinamento" de duas semanas onde receberam instruções avançadas e treinamento em criptoanálise. Em 1938 o Grupo de Segurança nas Comunicações, sucessor do "Research Desk", assumiu a operação de todos os serviços de D/F da Marinha. O crescimento da Organização Naval COMINT foi lento, progressivo e ininterrupto até a queda da França em junho de 1940. Devido a isto, quando a Emergência Nacional Ilimitada foi proclamada em junho de 1941, foi possível chamar para o serviço ativo reservistas treinados (ou parcialmente treinados). O pessoal disponível na COMINT era o seguinte:

DataOficiais AlistadosCivisTotal
19251247
1936118810109
junho de 19401112115147
janeiro de 19414448910543
7 de dezembro de 194175645 10730

Neste meio tempo (entre 1937 e 1938) o Laboratório Naval de Pesquisas desenvolveu um sistema HF D/F que finalmente funcionou. Foram criadas algumas instalações em estações D/F já existentes na costa dos EUA e, por motivos estratégicos, novas instalações foram construídas em Manila, Guam, Midway, Oahu, Dutch Harbor, Samoa, Zona do Canal, San Juan e Groenlândia. Em 1939, a organização D/F "estratégica" já estava rastreando navios de guerra japoneses e navios mercantes no Pacífico (só que os japoneses já observavam a movimentação dos navios dos EUA desde 1934 smile ). Da mesma forma, em 1940, os submarinos alemães também estavam sendo rastreados no Atlântico. Ao redor de maio de 1941, o Departamento da Marinha dos EUA e o Almirantado Britânico começaram a trocar informações sobre a movimentação de submarinos alemães. Além disto, as informações das estações também eram fornecidas para as Estações Navais Aéreas e para o Exército dos EUA.

Em 1940, um tal senhor Busignies, fugindo das tropas alemãs, refugiou-se nos EUA. Veio de Paris trazendo um projeto completo de um sistema D/F muito superior ao usado pelos norte-americanos. A Marinha dos EUA, através da Federal Telephone and Telegraph Company, fechou um contrato de produção com Busignies apesar de ser necessário adaptar o dispositivo para que funcionasse com válvulas americanas padrão, suprimento de energia de 60 ciclos e outras modificações. Como resultado, o D/F de Busignies só entrou em operação em 1943.

A Collins Radio Company, mais ou menos na mesma época, ofereceu à Marinha um novo projeto, radicalmente diferente. Produzido a toque de caixa, entrou em operação em 1942.

A grande preocupação dos EUA: os japoneses

Depois que as estações de interceptação de Xangai, na China, e Oahu, no Hawai, entraram em operação, a Marinha dos EUA começou um estudo das mensagens navais japonesas com a participação de alguns operadores de rádio que haviam aprendido como copiar o Código Morse japonês. Ao redor de 1922, devido a circunstâncias fortuitas, uma tropa de choque do FBI, ONI e representantes da polícia de Nova Iorque conseguiram arrombar o cofre do Cônsul Geral do Japão em Nova Iorque e botaram as mãos num Código Naval Japonês pertencente a um inspetor naval nipônico. Cada uma das páginas deste código foi fotografada mais de uma vez. A cifra usada com este código não era das mais elaboradas, o que facilitou enormemente o trabalho de espionagem.

Os poucos (um ou dois) tradutores não davam conta do volume de mensagens interceptadas, motivo pelo qual as mesmas eram selecionadas de acordo com a prioridade, remetentes importantes, destinatários de destaque, etc. Os japoneses usaram este código até dezembro de 1930, o que permitiu que as autoridades navais dos EUA (CNO, Planos de Guerra e Inteligência Naval) se inteirassem das manobras dos japoneses em 1930, inclusive dos planos de guerra navais, conceitos estratégicos e do fato de que as manobras eram apenas uma cobertura para uma mobilização total da Marinha do Japão. Quando, alguns meses mais tarde, o Exército Japonês iniciou a invasão da Manchúria, sua retaguarda estava garantida por forças navais superiores à força da Marinha dos EUA - a diferença era que e o chefe das Operações Navais dos EUA tinha conhecimento deste fato.

Para o Exército dos EUA, o período de 1930 a 1935 foi de intensa revitalização. Nestes anos o trabalho da inteligência estava sob o comando de William F. Friedman que, mais tarde, foi designado para a AFSA, o centro criptológico do Exército, Marinha e Aeronáutica com sede em Washington. Seu primeiro trabalho foi o de organizar o pessoal e de recrutar novos colaboradores. Organizou um programa de treinamento com literatura especializada e, pela primeira vez, planejou uma nova atividade criptológica: o desenvolvimento de cifras próprias (nossa, demorou um bocado!). Apesar dos anos de depressão que se seguiram, o maior triunfo do grupo de criptoanálise do Exército foi a criação pelo seu Serviço de Inteligência de uma escola para oficiais que, de apenas um aluno em 1931, cresceu para cerca de 120 alguns anos mais tarde.

Quando a recém criada Unidade COMINT da Marinha iniciou seus estudos sobre os sistemas diplomáticos japoneses em 1924-1925, o Exército prontamente se recusou a colaborar ou até mesmo a admitir que o "Gabinete Negro" de Yardley em Nova Iorque tivesse existido. Em 1931 a Marinha dos EUA deu um exemplo de colaboração disponibilizando para o Signal Corps todas as chaves diplomáticas que haviam sido recuperadas desde a extinção do Gabinete Negro, além de todas as informações a respeito de novos sistemas descobertos até então. Convencido, o pessoal do Exército assumiu os sistemas diplomáticos japoneses, liberando a Marinha deste encargo que, consequentemente, passou a focar seus esforços nos sistemas navais do Japão.

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