Criptografia Numaboa
A importância do rádio na Primeira Guerra Mundial
Qua 28 Fev 2007 15:28 |
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- Categoria: História da Criptologia
- Atualização: Quinta, 14 Março 2013 19:20
- Autor: vovó Vicki
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A importância militar do rádio ficou evidente assim que estourou a Primeira Guerra Mundial em meados de 1914.
A censura dos EUA
Os EUA, inicialmente, declararam sua neutralidade no conflito. Apesar disto, o presidente Woodrow Wilson imediatamente expediu uma Ordem Executiva instruindo o Departamento Naval a censurar todas as mensagens telegráficas enviadas e recebidas por empresas de radiocomunicação. A Marconi Wireless Company of America, empresa dominante nesta época, protestou veementemente e a interdição por mais de 90 dias da sua estação em Siasconsett, Massachusetts, provocou uma disputa judicial entre o governo dos EUA e a Marconi americana. A pendência só foi resolvida depois que a empresa se curvou aceitando as restrições e a censura.
Planos frustrados
Na Bélgica, nas proximidades de Bruxelas, estava instalada a mais potente das estações telegráficas e telefônicas do mundo. A estação, construída por Robert Goldschmidt num terreno doado pelo rei Albert, levou mais de 2 anos para entrar em funcionamento. Depois de muitas tentativas e apenas 3 meses antes do início do conflito, antenas gigantescas e o suprimento de 6.000 volts finalmente permitiram a comunicação direta entre Bruxelas e Boma, a capital do estado Congo.
No dia 19 de agosto de 1914 circulavam entre os belgas os rumores mais desencontrados - o medo maior era a rápida aproximação dos alemães. As autoridades belgas foram informadas de que uma tropa da cavalaria alemã recebera ordens para avançar em marcha forçada para tomar a estação, pois, dominando a estação, o exército germânico abriria uma enorme vantagem: poderia se comunicar com os pontos mais distantes do palco da guerra.
Neste mesmo dia, perto das 13:00 horas, foram ouvidas as primeiras explosões. Era um grupo de engenheiros militares belgas, encarregados de frustrar os planos do inimigo. Em algumas horas os mastros das antenas vieram abaixo, todo equipamento leve foi retirado, peças importantes foram quebradas a marteladas e o túnel das instalações foi explodido. Para que nem o que havia restado pudesse ser utilizado, foi ateado fogo em muita palha e feno colocado no interior da estação. O local ainda estava em chamas quando a cavalaria alemã chegou e constatou, frustrada, que seus planos tinham ido não por água, mas por fogo abaixo
Comunicação sem fio
No início das hostilidades os principais cabos de comunicação da Alemanha haviam sido cortados ou desligados, de modo que seu contato com o exterior dependia essencialmente da comunicação sem fio. Na época, o balanço das comunicações wireless contabilizava 17 estações governamentais na Alemanha, 4 no império Austro-Húngaro, 18 na França, 28 na Rússia e 47 na Inglaterra.
Inicialmente a função da comunicação sem fio foi a de suprir lacunas deixadas por cabos danificados ou inoperantes, mas, em pouco tempo, a importância desta tecnologia tornou-se mais do que evidente.
O equipamento sem fio que o General Joffre usava para manter contato com as linhas de frente dos aliados era portátil e tinha um alcance de 320 km. Não eram precisos mais do que 15 minutos para montar esta estação e torná-la operante. Na linha de frente eram utilizados equipamentos menores e mais leves, conhecidos como "knapsack". Podiam ser divididos de modo que quatro homens pudessem transportá-los - cada parte pesava menos de 10 kg - e eram preparados para entrar em operação em menos de 5 minutos.
Além das estações "knapsack" havia as estranhíssimas estações usadas pela cavalaria em missões de reconhecimento, conhecidas como "whisker wireless" - a antena se projetava no flanco do cavalo como um porco-espinho todo ouriçado.
As "estações de desembarque", com alcance de 80 km, eram usada pela Marinha. Acompanhavam equipes de reconhecimento mandadas para a praia enquanto os navios ficavam ao largo.
A aplicação mais nobre da comunicação sem fio durante a Primeira Guerra Mundial provavelmente foi a utilizada nas "máquinas voadoras". Os equipamentos instalados em aviões franceses e belgas pesava 45 kg e eram excepcionalmente simples e compactos. A estrutura metálica do avião funcionava como antena e um fio longo e solto funcionava como "terra". Caso este fio se enroscasse em árvores ou outros obstáculos, ele se soltava automaticamente e era substituído. O alcance chegava a cerca de 90 km, mais do que o necessário porque estes eram aviões de reconhecimento que sobrevoavam linhas inimigas, mas ainda no alcance de uma estação "knapsack". O operador do equipamento telegrafava para a estação "knapsack" informando as condições e as manobras do inimigo.
O telégrafo sem fio também era uma parte importante do equipamento dos Zepppelins alemães e dos dirigíveis franceses. Tinha um grande poder de transmissão.
O identificador de direção, que complementava o equipamento dos aviões espiões, foi adotado pelos britânicos para localizar estações de transmissão em bases da artilharia alemã. Uma vez localizadas, as armas britânicas e francesas eram apontadas de acordo com o resultado encontrado.
Os submarinos usavam um sistema parecido com o dos aviões de reconhecimento. Quando se deslocavam próximos da superfície, um pequeno mastro ou o periscópio eram usados como antenas.
Ordens via rádio comandavam os movimentos das frotas da Inglaterra, França e Alemanha. A Inglaterra enviava suas mensagens através da estação de Marconi em Carnarvon, no País de Gales, a Alemanha através da estação de Nauen e a França através da estação de Paris. Com exceção de uma hora por dia, Carnarvon transmitia as ordens em código, o qual era mudado diariamente. Para aumentar ainda mais a segurança, o comprimento de onda era mudado com frequência.
A sala de comunicações dos navios de guerra era, sem dúvida alguma, um dos lugares mais movimentados a bordo - exceto quando o navio estivesse em batalha. Todas as mensagens recebidas, seja para o navio em questão ou para outros, era imediatamente entregue ao capitão. Qualquer sinal suspeito - fumaça no horizonte ou uma mancha no céu que poderia ser um Zeppelin - era imediatamente transmitido para o restante da frota.
A estação da Torre Eiffel, em Paris, possuía o método mais sofisticado de coletar informações: usando um engenhoso aparelho de registro, podia receber até 10 mensagens simultaneamente. Além de coletar informações, a Eiffel também transmitia notícias para os soldados nas trincheiras. Um aparelho transmissor extremamente potente, aliado a uma torre de 275 metros de altura, fazia com que o alcance desta estação fosse de quase 5.000 km - o suficiente para manter contato permanente com toda a frota francesa.
Mensagens falsificadas também fizeram história. Em 6 de Agosto de 1914 os vasos de guerra alemães "Breslau" e "Goeben" estavam bloqueados por um esquadrão britânico no Estreito de Messina, entre a Sicília e a Itália. Na manhã deste dia o comandante britânico recebeu uma mensagem ordenando a liberação dos navios alemães. Acatando as ordens, liberou o inimigo e só descobriu que a mensagem era falsa depois que os navios estavam fora de seu alcance
O espião(?) Max Wax
A pequena caixa apreendida pela polícia dos EUA em 1917 mais parecia um trambique de estelionatário do que alguma coisa séria.
Depois de olhar a "coisa" mais de perto, a polícia e o governo dos EUA declararam que a caixa, propriedade do cidadão alemão Max Hans Ludwig Wax (olhem só a cara do freguês!), era o telégrafo sem fio mais perfeito que já tinham visto. Resultado? Prenderam o alemão.
O prisioneiro tentou desconversar alegando que não conhecia coisa alguma de telegrafia e, mais tarde, de que se tratava de uma "máquina para falsificar dinheiro americano". Chamado às falas, contou que havia comprado todos os componentes da geringonça e que havia montado o artefato sem a ajuda de quem quer que fosse.
Enquanto isto, especialistas estadunidenses em radiotelegrafia tentavam fazer a misteriosa caixa funcionar. Finalmente chegaram à conclusão de que seria preciso utilizar algum tipo de código para fazer contato com Berlim. Agora é que coisa fica ainda mais interessante...
Como não alcançaram seu objetivo, pediram que Max operasse o sistema. Resultado: Max Wax "pilotou" a caixa mágica e causou um baita curto-circuito...
E agora, esta história é de espião ou foi uma neura do serviço secreto dos EUA em tempos de guerra?
Fontes de Referência
- Destruction of the Brussels Radio Station in 1914, Henry M. de Gallaix, Radio Amateur News, Novembro 1919, página 220.
- Directing the War by Wireless, George F. Worts, Popular Mechanics, Maio 1915, páginas 647-650.
- Remarkable Radio Outfit Built By German Spy, The Electrical Experimenter, June 1917, página 110.