Criptografia Numaboa
A Linha do Tempo da Criptografia recente
Ter 30 Ago 2005 15:19 |
- Detalhes
- Categoria: História da Criptologia
- Atualização: Quarta, 23 Maio 2012 20:11
- Autor: vovó Vicki
- Acessos: 25126
Não deu para segurar a era das trevas da Idade Média e os europeus começaram a "botar as manguinhas de fora". Tenho a impressão de que pararam de perseguir, prender e queimar os "bruxos da criptografia" porque os interesses de Estado dependiam cada vez mais de criptógrafos e criptoanalistas qualificados
Todos os governos da Europa Ocidental usavam a criptografia de uma ou de outra forma e a codificação começou a tornar-se mais popular. Era prática comum usar cifras para manter contatos com as embaixadas.
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1466 | ![]() O "Trattati in cifra" de Leon Battista Alberti foi publicado em Roma, na Itália, em 1470. Continha "especialmente teorias e processos de cifragem, métodos de decifração e dados estatísticos" (Galland). |
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1473-1490 | "Um manuscrito [...] de Arnaldus de Bruxella usa cinco linhas de cifras para ocultar a parte crucial da operação da alquimia que fazia a pedra filosofal." (Kahn) | ||
1474 | Em 1474, Sicco Simonetta publicou "Regulae ad extrahendum litteras zifferatas sine exemplo", um pequeno trabalho ressaltando "métodos de decifração e fornececendo dados estatísticos consideráveis" (Galland). "A data do pequeno ensaio de Simonetta sobre cifras é importante porque se tratava de um período no qual a criptologia se tornou prática universal, quando cifras simples evoluíram para criptogramas complicados." (Thompson). | ||
1518 | ![]() Trithemius escreveu, porém não publicou, sua Steganographia, a qual circulou como manuscrito por mais de cem anos, sendo copiada por muitas pessoas que desejavam extrair os segredos que se pensava que continha. A verdadeira história do feiticeiro que conjurava espíritos e praticava magia negra você encontra em "O Segredo do Terceiro Livro". Altamente interessante, recomendo a leitura. A Polygraphiae libri sex de Trithemius, a qual incluía sua tabela de substituição Tabula Recta Caesar, foi publicada em 1518, apesar de haver dúvidas quanto à data correta. Foi reimpressa em 1550, 1564, 1571 e 1600. Uma tradução em Francês apareceu em 1561 e em 1564. (Galland) |
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1526 | ![]() Na figura ao lado, observe que o alfabeto-chave de Silvestri não possuía as letras j, v, w e y. "No disco, as três marcas que sucedem o Z representam: & para et; um símbolo usado comumente no Latim medieval para significar us ou um no final de palavras (p.ex., plurib& = pluribus), ou com, con, cum ou cun no início de palavras (p.ex., &cedo = concedo); e um símbolo usado para rum, a terminação do genitivo plural latino (illo& = illorum). O zig-zag no centro da figura deve corresponder a uma pequena manivela para girar os discos móveis". (Arnold) |
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1533 | ![]() |
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1540 | Giovanni Battista Palatino publicou seu Libro nvova d'imparare a scrivere ... Con vn breue et vtile trattato de le cifere. Foi reimpresso em 1545, 47, 48, 50, 53, 56, 61, 66, 78 e 1588. Uma versão revisada foi impressa em 1566, 78 e 88. |
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1550 | ![]() Foi reimpressa em 1551, duas vezes em 54, em 59, outras duas vezes em 60, e em 80 e 82. Uma tradução francesa foi impressa em 1556. Cardano inventou o primeiro método com auto-chave, mas seu sistema era imperfeito. Outra invenção, a grelha de Cardano, consiste numa folha de material rígido onde se encontram, em intervalos ireegulares, pequenas aberturas retangulares da altura de uma linha de escrita e de comprimento variável. O remetente escreve o texto nas aberturas, depois retira a folha e completa os espaços vazios com letras quaisquer. O destinatário põe a mesma grelha sobre o texto cifrado para ler a mensagem. Em 1556, Cardano publica De rerum varietate libri XVII, o qual contém informações criptográficas e era a continuação do seu popular De Subtilitate. Ambos foram "traduzidos e pirateados por editores por toda a Europa" (Kahn). De rerum foi reimpresso em 1557, 58, 80 e 81. |
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1551 | ![]() Trabalhou com o alfabeto Enoquiano, também chamado de "Linguagem dos Anjos" (há fontes de Enoquiano aqui na Aldeia, na seção de Downloads/Fontes/Alfabetos alternativos). O alfabeto desta língua arcaica é composto por 21 letras e foi criado por Dee e Edward Kelley. A linguagem possui gramática e sintaxe próprias, porém apenas pequenos exemplos foram traduzidos para o Inglês. John Dee também criou uma escrita cifrada que não foi quebrada até hoje. |
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1553 | Giovanni Battista Bellaso (1505-?), secretário do cardeal Duranti e do cardeal Rodolfo Pio, introduziu a noção do uso de uma senha como chave para uma cifra polialfabética. La cifra del Sig. Giovan Battista Bellaso foi publicado em 1553, depois corrigido e reimpresso em 1557 e 1564. Em 1564, Bellaso publicou uma cifra de auto-chave, melhorando o trabalho de Cardano, o qual parece ter sido o autor da idéia. (Kahn) | ||
1556 | A Espanha, sob a regência de Felipe II, adotou as mais modernas nomenclatura com homófonos (2 símbolos para as consoantes e 3 para as vogais) e listas para a substituição dos di- e trígrafos mais usados. Associados à nomenclatura e às listas, utilizaram códigos. O sistema foi usado até o século XVII e, cada 3 a 5 anos, as códigos eram modificados. | ||
1558 | Philibert Babou de Bourdaisière (1513-1570), embaixador em Roma do Rei Henrique II, usa a substituição homofônica na correspondência oficial. A cifra de Babou era uma substituição homofônica simplificada. | ||
1563 | ![]() Em 1563, Della Porta escreveu um texto sobre cifras introduzindo a cifra digrâmica (ou digráfica). Ele classificou as cifras em cifras de transposição, de substituição e de substituição por símbolos (uso de alfabetos estranhos). Sugeriu o uso de sinônimos e erros ortográficos para confundir os criptoanalistas. Aparentemente introduziu a noção de alfabeto misto numa tabela polialfabética. Em 1563 publicou o De fvrtivis literarvm notis, vvlgo de ziferis Libri IIII. No mesmo ano apareceu traduzido em Inglês sob o título de On secret notations for letters, commonly called chiphers. Seus quatro livros, tratando respectivamente de cifras arcaicas, cifras modernas, criptoanálise e uma lista de peculiaridades linguísticas que ajudavam na solução, compilavam o conhecimento criptológico da época. Um conjunto rococó de discos de cifragem acompanhava os livros. A obra foi reimpressa em 1591, 93, duas vezes em 1602, em 1603 e 1606. (Kahn) Em 1591, o De fvrtivis de Della Porta foi reimpresso por John Wolfe em Londres, o qual "aprimorou a edição original de 1563 tornando-a praticamente perfeita". Em 1593, o De fvrtivis foi reeditado, sem permissão, como De occvltis literarvm notis e incluía o primeiro jogo de tabelas criptológicas sinópticas jamais publicado. Foi reimpresso em 1603 e 1606. |
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1580 | ![]() No final do século XVI, o império espanhol dominava grande parte do mundo e, justamente por isso, os agentes espanhóis precisavam se comunicar usando uma cifra muito intrincada. Na realidade, a cifra era composta por mais de 500 caracteres, usados pelo Rei Felipe II da Espanha durante sua guerra em defesa do Catolicismo Romano e dos huguenotes franceses. Algumas mensagens de soldados espanhóis foram interceptadas pelos franceses e acabaram nas mãos do rei Henrique IV da França. O rei entregou estas mensagens espanholas para Viete, o matemático, na esperança de que ele as decifrasse. O matemático teve sucesso e guardou segredo quando, após dois anos, os espanhóis descobriram seu feito. O rei Felipe da Espanha, acreditando que uma cifra tão complexa nunca pudesse ser quebrada e tendo sido informado de que os franceses conheciam seus planos militares, foi se queixar ao Papa alegando que a magia negra estava sendo usada contra o seu país. O Papa, no entanto, não reagiu porque sabia do que se tratava ![]() |
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1585 | ![]() Em 1586, Blaise de Vigenère publica seu Traicté des chiffres, de 600 páginas. Nele discute muitas cifras, inclusive o sistema da "auto-chave progressiva" usada em algumas máquinas de cifragem modernas, e o assim chamado método "Vigenère tableau". Foi muito escrupuloso, dando o devido crédito a outros autores, destacando-os clara e inequivocamente. |
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1587 | Maria, rainha da Escócia, é decapitada por estar envolvida na tentativa de assassinato da rainha Elizabete I. Os agentes de Elizabete I desmascararam os planos da Rainha Mary com a ajuda da criptoanálise. | ||
1591 | Matteo Argenti, sobrinho de Della Porta, publica um folheto de 135 páginas sobre criptologia. Ele utiliza uma chave mnemônica para misturar o alfabeto secreto onde deixa de lado as letras duplas. | ||
1592 | Julius Caesar Scaliger publicou seu Exotericarvm exercitationvm liber XV, de 1220 páginas. "Este tratado filosófico sobre o De subtilitate de Cardano [...] foi um livro de texto muito popular até a queda final da física de Aristóteles" (Galland). Foi reimpresso em 1557, 60 e 76. | ||
Final do século XVI | A França começa a consolidar sua liderança na criptoanálise. | ||
± 1620 | ![]() |
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1623 | ![]() |
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1641 | ![]() |
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1663 | ![]() |
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1670 | Francesco Lana Terzi (1631-1687), físico e naturalista italiano, publica Prodromo all'Arte Maestra. Nesta obra também inclui uma descrição ilustrada de uma cifra usando a notação musical. Propõe também métodos para os cegos escreverem e para ensinar surdos a falar. | ||
1671 | ![]() |
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1685 | Frederici publica Cryptographia onde, entre outras coisas, apresenta seu alfabeto triliteral. | ||
1685-1692 | Os trabalhos do inglês John Falconer sobre escritas secretas e transmissão de mensagens cifradas incluem Cryptomenysis Patefacta ou "A Arte da Informação Secreta Revelada sem uma Chave" (1685) e "Regras para Explicar e Decifrar todo Tipo de Escritas Secretas" (1692). Interessante na Cryptmomenysis é uma seção de semiologia, que Falconer define como "métodos de informação secreta através de sinais e gestos". Entre tais sinais e gestos inclui os hieróglifos egípcios e alfabetos através do uso dos dedos (dactilologia). Esta obra foi grandemente influenciada por Gaspar Schott (1608-1666) e por John Wilkins, Bispo de Chester (1614-1672). | ||
1691 | ![]() |
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Século XVIII | É a época da espionagem das Black Chambers (Câmaras Escuras ou Câmaras Negras) na Europa. Viena possui uma das mais eficientes, chamada de "Geheime Kabinettskanzlei", liderada pelo Barão Ignaz von Koch. Sua função consistia em ler a correspondência diplomática internacional, copiar as cartas e devolvê-las às agências de correio na mesma manhã. Relata-se que cerca de 100 cartas eram manipuladas diariamente. Na França eram chamadas de "Cabinet Noir" e existiam desde 1680, formadas por vários criptoanalistas contratados pelo governo. A Black Chamber inglesa foi formada por John Wallis em 1701. Após sua morte, em 1703, seu neto, William Blencowe, assumiu seu posto e recebeu o título de Decypherer. Ao redor de 1850, sem grandes acontecimentos que justificassem equipes de criptoanalistas "de plantão", as Black Chambers acabaram sendo dissolvidas. |
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1734 | O belga José de Bronckhorst, Conde de Gronsfeld, melhora a Cifra de César utilizando um deslocamento variável baseado numa chave numérica. Analisando a Cifra de Gronsfeld, como ficou conhecida, verifica-se que acaba nada mais é do que uma variação da Cifra de Vigenère, porém com apenas 10 deslocamentos possíveis ao invés de 26. | ||
1738 | Crystobal Rodriguez (?1677-1735) escreveu a Bibliotheca Universal de la Polygraphía Española, publicada em Madrid em 1738. Esta obra é considerada como o primeiro estudo completo da criptografia e da paleografia da Espanha. Consiste principalmente de numerosas tabelas de alfabetos e sianis e de facsimiles de apontamentos e documentos escritos em forma abreviada. Rodriguez, aquivista da Catedral de Ávila e comissário da Inquisição em Valladolid, inseriu muitas transcrições e material explicativo. A introdução é de Blas Antonio Nassarre y Ferriz e trata da escrita na Espanha antes da invasão dos árabes em 711. | ||
1752 | ![]() Além de cientista, Franklin foi inventor, político, editor, filósofo, músico e economista. Apesar da multiplicidade de talentos, nem de longe poderia imaginar o impacto que a eletricidade teria na criptografia muitos anos mais tarde, quando os dispositivos elétricos mudaram totalmente sua feição e sua evolução. |
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1780 | Penas de aço começam a substituir as penas de aves que eram usadas para escrever. | ||
± 1795 | ![]() Os cilindros cifrantes são, por assim dizer, uma invenção do século XIX. Foram re-inventados por diversas vezes e utilizados pelos militares no século XX, até a Segunda Guerra Mundial. |
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1799 | ![]() ![]() |
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1808 | O espanhol Francisco de Paula Martí (1762-1827), baseado nas obras de Trithemius e Kircher, escreve Poligrafía, ó Arte de Escribir en Cifra de Diferenter Modos. Expõe uma variedade de cifras, entre elas cifras de substituição numéricas e alfabéticas. A segunda parte da obra trata da escrita invisível, onde Martí descreve métodos para tornar textos legíveis em mensagens onde a tinta tenha desbotado ou que tenham sido escritas com tintas invisíveis. | ||
1817 | O coronel Decius Wadsworth, engenheiro, produziu um disco cifrante com engrenagens com um número diferente de letras nos alfabetos claro e cifrante, o que resultou numa cifra progressiva na qual os alfabetos são usados irregularmente, dependendo do texto claro utilizado. | ||
1834 | ![]() |
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1839 | ![]() |
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1840 | ![]() |
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1843 | ![]() |
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1854 | ![]() ![]() |
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1857 | ![]() |
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1859 | Pliny Earle Chase publica a primeira descrição de uma cifra fracionante (tomográfica). | ||
1861 | O padre brasileiro José Francisco de Azevedo inventa a máquina de escrever. Além de matemático, era excelente mecânico. Ganhou medalha de ouro por um protótipo em 1861, em exposições no Pernambuco e no Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, só em 1868 Christopher Sholes registrou a primeira patente da máquina de escrever. | ||
1863 | Friedrich Wilhelm Kasiski nasceu em Novembro de 1805 numa pequena cidade da Prússia ocidental. Alistou-se no regimento de infantaria da Prússia oriental aos 17 anos e foi subindo de posto até chegar a comandante de companhia. Aposentou-se em 1852 como major. Apesar do interesse pela criptologia durante sua carreira militar, foi apenas nos anos de 1860 que começou a por suas idéias no papel. Em 1863, seu texto de 95 páginas Die Geheimschriften und die Dechiffrierkunst (As escritas secretas e a arte da decifração) foi publicado. Grande parte do conteúdo refere-se à solução de cifras polialfabéticas de chave repetida (a Cifra de Vigenère), um problema que estava atormentando os criptoanalistas durante séculos. Basta lembrar que a cifra de Vigenère era considerada inquebrável desde o século 17. Desapontado com a falta de interesse pelas suas descobertas, Kasiski voltou sua atenção para outras atividades, inclusive para a antropologia. Fez parte em pesquisas arqueológicas, além de escrever numerosos artigos sobre o assunto para jornais especializados. Morreu em Maio de 1881 sem ver reconhecida a importância dos seus achados criptoanalíticos. | ||
1861-1865 | Durante a Guerra Civil Americana, a União utilizou a substituição de palavras selecionadas seguida de uma transposição colunar enquanto que os Confederados usaram Vigenère (cuja solução tinha acabado de ser publicada por Kasiski). | ||
1881 | O austríaco Eduard Baron (Freiherr) von Fleissner von Wostrowitz (1825-1888) nasceu em Lemberg, filho de um oficial da cavalaria austríaca. Fez parte do Regimento Chevaux-légeres Número 6, em 1871 tornou-se comandante da escola de oficiais de Ödenburg, em 1872 foi promovido a comandante de divisão e em 1874 aposentou-se. Durante sua atividade militar ocupou-se com meios e métodos criptográficos e, em 1881, publicou em Viena seu livro Handbuch der Kryptographie (Manual de Criptografia). É o inventor da Grade Giratória que leva seu nome. Esta cifra foi usada por Júlio Verne na novela "Mathias Sandorf". | ||
1890 | ![]() |
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1891 | ![]() |
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1893 | ![]() |
Fontes
- Kahn, "The Codebreakers"
- Müller, Didier (Cours de Cryptologie)
- Ellison, Carl
- Pommerenning, Kryptologie.
- World Information
Texto publicado pela primeira vez na Aldeia em 6 de Junho de 2003.