A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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Criptografia Numaboa

A Linha do Tempo da Criptografia recente

Ter

30

Ago

2005


15:19

(53 votos, média 3.83 de 5) 


Não deu para segurar a era das trevas da Idade Média e os europeus começaram a "botar as manguinhas de fora". Tenho a impressão de que pararam de perseguir, prender e queimar os "bruxos da criptografia" porque os interesses de Estado dependiam cada vez mais de criptógrafos e criptoanalistas qualificados smile

Todos os governos da Europa Ocidental usavam a criptografia de uma ou de outra forma e a codificação começou a tornar-se mais popular. Era prática comum usar cifras para manter contatos com as embaixadas.


atencao Substituição Polialfabética e Criptoanálise

1466 Alberti (1404-1472) Leon Battista Alberti (1404-1472) era amigo de Leonardo Dato, um secretário pontificial que o aproximou da criptologia. Alberti inventou e publicou a primeira cifra polialfabética, criando um disco de cifragem para simplificar o processo, conhecido como Disco de Alberti (que foi reeditado como um brinquedo chamado "Captain Midnight Decoder Badge"). Ao que tudo indica, esta classe de cifra não foi quebrada até os anos de 1800. Alberti também tem muitos escritos sobre o estado da arte de cifras, além da sua própria invenção. Usou seu disco para facilitar a obtenção de criptogramas. Estes sistemas eram muito mais fortes do que a nomenclatura usada pelos diplomatas da época e foram aplicados durante muitos séculos.
O "Trattati in cifra" de Leon Battista Alberti foi publicado em Roma, na Itália, em 1470. Continha "especialmente teorias e processos de cifragem, métodos de decifração e dados estatísticos" (Galland).

1473-1490 "Um manuscrito [...] de Arnaldus de Bruxella usa cinco linhas de cifras para ocultar a parte crucial da operação da alquimia que fazia a pedra filosofal." (Kahn)

1474 Em 1474, Sicco Simonetta publicou "Regulae ad extrahendum litteras zifferatas sine exemplo", um pequeno trabalho ressaltando "métodos de decifração e fornececendo dados estatísticos consideráveis" (Galland). "A data do pequeno ensaio de Simonetta sobre cifras é importante porque se tratava de um período no qual a criptologia se tornou prática universal, quando cifras simples evoluíram para criptogramas complicados." (Thompson).

1518 Trithemius (1462-1516) Johannes von Heydenberg aus Trittenheim/Mosel, ou Johannes Trithemius (1462-1516), escreveu o primeiro livro impresso de criptologia. Inventou uma cifra esteganográfica na qual cada letra era representada por uma palavra obtida de uma sucessão de colunas. A série de palavras resultantes ficava parecida com uma oração legítima. Também descreveu cifras polialfabéticas na forma de tabelas de substituição retangulares que, na época, já tinham se tornado padrão. Introduziu a noção da troca de alfabetos a cada letra.
Trithemius escreveu, porém não publicou, sua Steganographia, a qual circulou como manuscrito por mais de cem anos, sendo copiada por muitas pessoas que desejavam extrair os segredos que se pensava que continha. A verdadeira história do feiticeiro que conjurava espíritos e praticava magia negra você encontra em "O Segredo do Terceiro Livro". Altamente interessante, recomendo a leitura.
A Polygraphiae libri sex de Trithemius, a qual incluía sua tabela de substituição Tabula Recta Caesar, foi publicada em 1518, apesar de haver dúvidas quanto à data correta. Foi reimpressa em 1550, 1564, 1571 e 1600. Uma tradução em Francês apareceu em 1561 e em 1564. (Galland)

1526 Disco O livro Opus novum ... principibus maxime vtilissimum pro cipharis, de Jacopo Silvestri, é impresso. A obra discute seis métodos de cifras, inclusive a cifra de César, para a qual ele recomenda o uso de um disco de cifragem. Opum novum foi escrito para ser um manual prático de criptologia que "claramente pretendia alcançar um vasto círculo de leitores". (Arnold)
Na figura ao lado, observe que o alfabeto-chave de Silvestri não possuía as letras j, v, w e y. "No disco, as três marcas que sucedem o Z representam: & para et; um símbolo usado comumente no Latim medieval para significar us ou um no final de palavras (p.ex., plurib& = pluribus), ou com, con, cum ou cun no início de palavras (p.ex., &cedo = concedo); e um símbolo usado para rum, a terminação do genitivo plural latino (illo& = illorum). O zig-zag no centro da figura deve corresponder a uma pequena manivela para girar os discos móveis". (Arnold)

1533 Agrippa (1486-1535) Heinrich Cornelius Agrippa von Nettelsheim (1486-1535) publica o De occulta philosophia, em Colônia, na Alemanha. No livro 3, capítulo 30, descreve sua cifra de substituição monoalfabética, hoje conhecida como Cifra Pig Pen. A tradução literal do nome é Porco no Chiqueiro e vem do fato de que cada uma das letras (os porcos) é colocada numa "casa" (o chiqueiro). Na época, a cifra parece ter tido importância pois, alguns anos mais tarde, Vigenère a reproduz no seu Traicté des chiffres, ou secretes manieres d'escrire (Paris, 1586, f. 275 v). Aparentemente, esta cifra foi utilizada pela sociedade secreta dos franco-maçons.

1540 Giovanni Battista Palatino publicou seu Libro nvova d'imparare a scrivere ... Con vn breue et vtile trattato de le cifere. Foi reimpresso em 1545, 47, 48, 50, 53, 56, 61, 66, 78 e 1588. Uma versão revisada foi impressa em 1566, 78 e 88.


atencao Substituição Polialfabética, Nomenclaturas e Criptoanálise

1550 Cardano (1501-1576) Foi publicado o De subtilitate libri XXI de Girolamo Cardano (1501-1576). "Esta obra famosa, de um notável matemático, físico e filósofo contém... uma quantidade considerável de informações a respeito de processos de cifragem". (Galland)
Foi reimpressa em 1551, duas vezes em 54, em 59, outras duas vezes em 60, e em 80 e 82. Uma tradução francesa foi impressa em 1556.
Cardano inventou o primeiro método com auto-chave, mas seu sistema era imperfeito. Outra invenção, a grelha de Cardano, consiste numa folha de material rígido onde se encontram, em intervalos ireegulares, pequenas aberturas retangulares da altura de uma linha de escrita e de comprimento variável. O remetente escreve o texto nas aberturas, depois retira a folha e completa os espaços vazios com letras quaisquer. O destinatário põe a mesma grelha sobre o texto cifrado para ler a mensagem.
Em 1556, Cardano publica De rerum varietate libri XVII, o qual contém informações criptográficas e era a continuação do seu popular De Subtilitate. Ambos foram "traduzidos e pirateados por editores por toda a Europa" (Kahn). De rerum foi reimpresso em 1557, 58, 80 e 81.

1551 John Dee (1527-1608) John Dee (1527-1608), alquimista, astrólogo e matemático inglês, estudou e ministrou aulas no continente europeu entre 1547 e 1550. Retornou à Inglaterra em 1551, tornando-se astrólogo da rainha Maria Tudor. Logo após foi preso acusado de praticar magia, sendo libertado em 1555. Entre 1583 e 1589 viajou pela Polônia e Boêmia exibindo-se como mágico nas cortes de vários príncipes.
Trabalhou com o alfabeto Enoquiano, também chamado de "Linguagem dos Anjos" (há fontes de Enoquiano aqui na Aldeia, na seção de Downloads/Fontes/Alfabetos alternativos). O alfabeto desta língua arcaica é composto por 21 letras e foi criado por Dee e Edward Kelley. A linguagem possui gramática e sintaxe próprias, porém apenas pequenos exemplos foram traduzidos para o Inglês. John Dee também criou uma escrita cifrada que não foi quebrada até hoje.

1553 Giovanni Battista Bellaso (1505-?), secretário do cardeal Duranti e do cardeal Rodolfo Pio, introduziu a noção do uso de uma senha como chave para uma cifra polialfabética. La cifra del Sig. Giovan Battista Bellaso foi publicado em 1553, depois corrigido e reimpresso em 1557 e 1564. Em 1564, Bellaso publicou uma cifra de auto-chave, melhorando o trabalho de Cardano, o qual parece ter sido o autor da idéia. (Kahn)

1556 A Espanha, sob a regência de Felipe II, adotou as mais modernas nomenclatura com homófonos (2 símbolos para as consoantes e 3 para as vogais) e listas para a substituição dos di- e trígrafos mais usados. Associados à nomenclatura e às listas, utilizaram códigos. O sistema foi usado até o século XVII e, cada 3 a 5 anos, as códigos eram modificados.

1558 Philibert Babou de Bourdaisière (1513-1570), embaixador em Roma do Rei Henrique II, usa a substituição homofônica na correspondência oficial. A cifra de Babou era uma substituição homofônica simplificada.

1563 Porta (1535-1615) O Magiae natvralis libri XX de Giambattista Della Porta (1535-1615), que no Livro XVI trata de decifração, foi publicado em 1558. Foi reimpresso em 1560, duas vezes em 61, em 62, 64, 67, 76, 85, 91, 97 e 1607. Uma tradução francesa anônima foi impressa em 1565, 67, 70, 71 e 84.
Em 1563, Della Porta escreveu um texto sobre cifras introduzindo a cifra digrâmica (ou digráfica). Ele classificou as cifras em cifras de transposição, de substituição e de substituição por símbolos (uso de alfabetos estranhos). Sugeriu o uso de sinônimos e erros ortográficos para confundir os criptoanalistas. Aparentemente introduziu a noção de alfabeto misto numa tabela polialfabética.
Em 1563 publicou o De fvrtivis literarvm notis, vvlgo de ziferis Libri IIII. No mesmo ano apareceu traduzido em Inglês sob o título de On secret notations for letters, commonly called chiphers. Seus quatro livros, tratando respectivamente de cifras arcaicas, cifras modernas, criptoanálise e uma lista de peculiaridades linguísticas que ajudavam na solução, compilavam o conhecimento criptológico da época. Um conjunto rococó de discos de cifragem acompanhava os livros. A obra foi reimpressa em 1591, 93, duas vezes em 1602, em 1603 e 1606. (Kahn)
Em 1591, o De fvrtivis de Della Porta foi reimpresso por John Wolfe em Londres, o qual "aprimorou a edição original de 1563 tornando-a praticamente perfeita".
Em 1593, o De fvrtivis foi reeditado, sem permissão, como De occvltis literarvm notis e incluía o primeiro jogo de tabelas criptológicas sinópticas jamais publicado. Foi reimpresso em 1603 e 1606.

1580 Viète (1540-1603) François Viete (1540-1603), matemático francês, foi quem introduziu a primeira notação algébrica sistematizada e um dos que contribuiu para a teoria das equações. Apesar de ser mais conhecido como matemático, ele também foi um dos melhores especialistas em cifras de todos os tempos.
No final do século XVI, o império espanhol dominava grande parte do mundo e, justamente por isso, os agentes espanhóis precisavam se comunicar usando uma cifra muito intrincada. Na realidade, a cifra era composta por mais de 500 caracteres, usados pelo Rei Felipe II da Espanha durante sua guerra em defesa do Catolicismo Romano e dos huguenotes franceses. Algumas mensagens de soldados espanhóis foram interceptadas pelos franceses e acabaram nas mãos do rei Henrique IV da França. O rei entregou estas mensagens espanholas para Viete, o matemático, na esperança de que ele as decifrasse. O matemático teve sucesso e guardou segredo quando, após dois anos, os espanhóis descobriram seu feito. O rei Felipe da Espanha, acreditando que uma cifra tão complexa nunca pudesse ser quebrada e tendo sido informado de que os franceses conheciam seus planos militares, foi se queixar ao Papa alegando que a magia negra estava sendo usada contra o seu país. O Papa, no entanto, não reagiu porque sabia do que se tratava smile

1585 Vigenère (1523-1596) Blaise de Vigenère (1523-1596) escreveu um livro sobre cifras, incluindo os primeiros sistemas autênticos de texto claro e texto cifrado com auto-chave, nos quais letras prévias do texto claro ou cifrado são usadas para a letra chave atual. Conforme Kahn, ambos foram esquecidos e reinventados no final do século XIX. A idéia da auto-chave sobrevive até os dias de hoje nos modos CBC e CFB do DES.
Em 1586, Blaise de Vigenère publica seu Traicté des chiffres, de 600 páginas. Nele discute muitas cifras, inclusive o sistema da "auto-chave progressiva" usada em algumas máquinas de cifragem modernas, e o assim chamado método "Vigenère tableau". Foi muito escrupuloso, dando o devido crédito a outros autores, destacando-os clara e inequivocamente.

1587 Maria, rainha da Escócia, é decapitada por estar envolvida na tentativa de assassinato da rainha Elizabete I. Os agentes de Elizabete I desmascararam os planos da Rainha Mary com a ajuda da criptoanálise.

1591 Matteo Argenti, sobrinho de Della Porta, publica um folheto de 135 páginas sobre criptologia. Ele utiliza uma chave mnemônica para misturar o alfabeto secreto onde deixa de lado as letras duplas.

1592 Julius Caesar Scaliger publicou seu Exotericarvm exercitationvm liber XV, de 1220 páginas. "Este tratado filosófico sobre o De subtilitate de Cardano [...] foi um livro de texto muito popular até a queda final da física de Aristóteles" (Galland). Foi reimpresso em 1557, 60 e 76.

Final do século XVI A França começa a consolidar sua liderança na criptoanálise.

± 1620 Richelieu (1585-1642) O cardeal francês Richelieu (1585-1642) usou um sistema parecido com o de Cardano. Escrevia uma mensagem qualquer, que fazia algum sentido e que continha as letras da mensagem secreta na ordem correta. O destinatário possuía uma grelha preparada previamente por Richelieu, que permitia desvendar a mensagem enviada.

1623 Francis Bacon (1561-1626) Sir Francis Bacon (1561-1626) que se supõe, com grande probabilidade, ter sido William Shakespeare, inventa um sistema de esteganografia que ele publicou no De dignitate et augmentis scientiarum. Denominou seu alfabeto de biliteral porque utiliza uma combinação das duas letras, A e B, em grupos de cinco. A cifra é conhecida pelo seu nome, Cifra de Bacon, hoje em dia classificada como codificação binária de 5 bits.

1641 Wilkins (1614-1672) John Wilkins (1614-1672), Bispo de Chester, Inglaterra, na sua obra Mercury; or, The Secret and Swift Messenger descreve uma cifra que emprega a notação musical. Além disso, descreve várias formas de sistemas esteganográficos, como as tintas invisíveis. Menciona o Pig Latin, uma forma de encriptação falada ou criptolalia e um alfabeto triliteral.

1663 Kircher (1602-1680) O franciscano Athanasius Kircher (1601-1680), estudioso e matemático alemão, publicou Polygraphia Nova et Vniversalis ex Combinatoria Arte Detecta baseando-se principalmente em Trithemius e Vigenère. Transformou as cifras polialfabéticas em cifras numéricas. Na parte I da obra, Kircher propõe um sistema de pasigrafia, ou escrita universal, empregando números que correspondem a palavras de sentido semelhante em Latim, Italiano, Francês, Alemão e Espanhol.

1670 Francesco Lana Terzi (1631-1687), físico e naturalista italiano, publica Prodromo all'Arte Maestra. Nesta obra também inclui uma descrição ilustrada de uma cifra usando a notação musical. Propõe também métodos para os cegos escreverem e para ensinar surdos a falar.

1671 Leibniz (1646-1716) Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), filósofo e matemático alemão, inventou o cálculo diferencial e integral (independentemente de Sir Isaac Newton), a máquina de calcular e descreveu minuciosamente o sistema binário. Sua máquina de calcular usava a escala binária. Esta escala, obviamente mais elaborada, é utilizada até hoje, sendo conhecida como código ASCII.

1685 Frederici publica Cryptographia onde, entre outras coisas, apresenta seu alfabeto triliteral.

1685-1692 Os trabalhos do inglês John Falconer sobre escritas secretas e transmissão de mensagens cifradas incluem Cryptomenysis Patefacta ou "A Arte da Informação Secreta Revelada sem uma Chave" (1685) e "Regras para Explicar e Decifrar todo Tipo de Escritas Secretas" (1692). Interessante na Cryptmomenysis é uma seção de semiologia, que Falconer define como "métodos de informação secreta através de sinais e gestos". Entre tais sinais e gestos inclui os hieróglifos egípcios e alfabetos através do uso dos dedos (dactilologia). Esta obra foi grandemente influenciada por Gaspar Schott (1608-1666) e por John Wilkins, Bispo de Chester (1614-1672).

1691 Rossignol Antoine Rossignol e seu filho Bonaventure elaboraram a Grande Cifra de Luís XIV. Ela caiu em desuso após a morte dos seus inventores e suas regras precisas foram rapidamente perdidas. A Grande Cifra era muito robusta, tanto que só foi quebrada no final do século XIX (ao redor de 1890). Alguns autores afirmam que foi quebrada por Bazeries, enquanto outros citam Victor Gendron, um seu contemporâneo.


atencao Substituição Polialfabética, Nomenclaturas e Criptoanálise. A eletricidade começa a mudar as comunicações.

Século XVIII É a época da espionagem das Black Chambers (Câmaras Escuras ou Câmaras Negras) na Europa. Viena possui uma das mais eficientes, chamada de "Geheime Kabinettskanzlei", liderada pelo Barão Ignaz von Koch. Sua função consistia em ler a correspondência diplomática internacional, copiar as cartas e devolvê-las às agências de correio na mesma manhã. Relata-se que cerca de 100 cartas eram manipuladas diariamente.
Na França eram chamadas de "Cabinet Noir" e existiam desde 1680, formadas por vários criptoanalistas contratados pelo governo. A Black Chamber inglesa foi formada por John Wallis em 1701. Após sua morte, em 1703, seu neto, William Blencowe, assumiu seu posto e recebeu o título de Decypherer.
Ao redor de 1850, sem grandes acontecimentos que justificassem equipes de criptoanalistas "de plantão", as Black Chambers acabaram sendo dissolvidas.

1734 O belga José de Bronckhorst, Conde de Gronsfeld, melhora a Cifra de César utilizando um deslocamento variável baseado numa chave numérica. Analisando a Cifra de Gronsfeld, como ficou conhecida, verifica-se que acaba nada mais é do que uma variação da Cifra de Vigenère, porém com apenas 10 deslocamentos possíveis ao invés de 26.

1738 Crystobal Rodriguez (?1677-1735) escreveu a Bibliotheca Universal de la Polygraphía Española, publicada em Madrid em 1738. Esta obra é considerada como o primeiro estudo completo da criptografia e da paleografia da Espanha. Consiste principalmente de numerosas tabelas de alfabetos e sianis e de facsimiles de apontamentos e documentos escritos em forma abreviada. Rodriguez, aquivista da Catedral de Ávila e comissário da Inquisição em Valladolid, inseriu muitas transcrições e material explicativo. A introdução é de Blas Antonio Nassarre y Ferriz e trata da escrita na Espanha antes da invasão dos árabes em 711.

1752 Franklin (1706-1790) Benjamin Franklin (1706-1790) suspeitava que os raios fossem correntes elétricas naturais e queria provar sua teoria. Uma maneira de testar sua idéia seria verificar se um raio passava através de metal. Decidiu então usar uma chave de metal e utilizou uma pipa para levá-la para perto dos raios e provar que os mesmos, na realidade, eram correntes de ar eletrificadas. Soltou a famosa pipa em junho de 1752, provou sua teoria e acabou criando, além do pára-raios, muitos termos que até hoje são utilizados, como bateria, condutor, condensador, carga, descarga, negativo, positivo, choque elétrico, etc.
Além de cientista, Franklin foi inventor, político, editor, filósofo, músico e economista. Apesar da multiplicidade de talentos, nem de longe poderia imaginar o impacto que a eletricidade teria na criptografia muitos anos mais tarde, quando os dispositivos elétricos mudaram totalmente sua feição e sua evolução.

1780 Penas de aço começam a substituir as penas de aves que eram usadas para escrever.

± 1795 Jefferson (1743-1826) Thomas Jefferson (1743-1826), possivelmente com a ajuda do Dr. Robert Patterson, um matemático da Universidade da Pensilvânia, inventa um cilindro cifrante (ou cifra de roda). Apesar da engenhosidade deste dispositivo composto por 26 discos, nunca chegou a ser utilizado. O cilindro de Jefferson é um dispositivo que permite realizar com rapidez e segurança uma substituição polialfabética.
Os cilindros cifrantes são, por assim dizer, uma invenção do século XIX. Foram re-inventados por diversas vezes e utilizados pelos militares no século XX, até a Segunda Guerra Mundial.

1799 Pedra da Roseta Descobre-se a Pedra da Roseta, através da qual foi possível decifrar os hieroglifos egípcios: uma história de criptoanálise realizada num texto claro. As mensagens da pedra, que pode ser considerada um "dicionário" em três línguas, foram decifradas somente em 1822 por Champollion, após uma tentativa frustrada feita por Thomas Young em 1814. É muito interessante porque envolve conhecimento de línguas, um grande poder investigativo e uma boa dose de intuição.

Volta (1745-1827) A bateria do Allesandro Volta (1745-1827), nascido em Como, na Itália, proporciona a primeira fonte prolongada de eletricidade. Mais uma etapa no processo de "domar" a eletricidade, abrindo espaço para novos dispositivos elétricos aplicados à criptologia.

1808 O espanhol Francisco de Paula Martí (1762-1827), baseado nas obras de Trithemius e Kircher, escreve Poligrafía, ó Arte de Escribir en Cifra de Diferenter Modos. Expõe uma variedade de cifras, entre elas cifras de substituição numéricas e alfabéticas. A segunda parte da obra trata da escrita invisível, onde Martí descreve métodos para tornar textos legíveis em mensagens onde a tinta tenha desbotado ou que tenham sido escritas com tintas invisíveis.

1817 O coronel Decius Wadsworth, engenheiro, produziu um disco cifrante com engrenagens com um número diferente de letras nos alfabetos claro e cifrante, o que resultou numa cifra progressiva na qual os alfabetos são usados irregularmente, dependendo do texto claro utilizado.

1834 Braille (1809-1852) Louis Braille (1809-1852), educador francês, ficou cego aos 3 anos de idade. Interessou-se por um sistema de escrita, apresentado na escola Charles Barbier, no qual uma mensagem codificada em pontos era cunhada em papel-cartão. Aos 15 anos de idade trabalhou numa adaptação, escrita com um instrumento simples. O Código Braille consiste de 63 caracteres, cada um deles constituído por 1 a 6 pontos dispostos numa matriz ou célula de seis posições. Mais tarde adaptou este sistema para a notação musical. Publicou tratados sobre seu sistema em 1829 e 1837. O Sistema Braille é universalmente aceito e utilizado até os dias de hoje.

1839 Brazão O'Shaughnessy Sir William Brooke O'Shaughnessy, cirurgião inglês da Cia. das Índias Ocidentais, desenvolve um sistema de telegrafia e muda a história do colonialismo britânico e da Guerra da Criméia. Apesar de contemporâneos, Morse (nos EUA), Cooke e Wheatstone (na Inglaterra) e O'Shaughnessy (na Índia) desenvolveram sistemas de comunicação independentes. O mais amplo e que entrou em funcionamento mais rapidamente foi o de O'Shaughnessy: em três anos havia puxado 6.500 km de linhas que interligavam toda a Índia.

1840 Morse (1791-1872) O assistente de Samuel Morse (1791-1872) desenvolve o código que recebeu o nome do chefe. Na verdade não é um código, mas sim um alfabeto cifrado em sons curtos e longos. Morse foi o inventor de um dispositivo que chamou de telégrafo e, em 1844, enviou sua primeira mensagem com os dizeres "What hath God wrought". A história de Morse é muito interessante porque, ao contrário do que se espera, a telegrafia atual se deve a um artista e não a um cientista. A invenção do telégrafo alterou profundamente a criptografia e tornou a cifragem uma necessidade imperiosa.


atencao Substituição Polialfabética, Nomenclaturas e Criptoanálise. O rádio muda as comunicações.

1843 Poe (1809-1849) Edgar Allan Poe(1809-1849) publica em 1843 uma história que ficou famosa, intitulada "O escaravelho de ouro", na qual ele narra a aventura de um indivíduo que encontra uma mensagem cifrada num besouro. Esta mensagem indica a localização de uma fabuloso tesouro. Poe, um criptoanalista aficcionado, explica em detalhes como a mensagem foi decifrada usando técnicas estatísticas.

1854 Babbage (1791-1871) Figura polêmica, Charles Babbage (1791-1871), matemático inglês e hoje chamado de "o pai do computador", tem uma história de vida muito peculiar e ao mesmo tempo divertida. Entre outras coisas, Babbage quebra a cifra de Vigenère e projeta as primeiras máquinas de cáculo sofisticadas, precursoras do computador: a Máquina das Diferenças e a Máquina Analítica.

Wheatstone (1802-1875) A Cifra de Playfair é inventada por Sir Charles Wheatstone e publicada pelo seu amigo Lyon Playfair. Esta cifra usa uma matriz de letras com chaves para produzir uma cifra digráfica, fácil de ser utilizada em campos de batalha. Wheatstone também re-inventou o dispositivo de Wadsworth.

1857 Beaufort (1774-1857) Após a morte do almirante Sir Francis Beaufort (1774-1857), sua cifra, uma variação da cifra de Vigenère sob a forma de um cartão de cerca de 10x13 cm, é publicada pelo seu irmão.

1859 Pliny Earle Chase publica a primeira descrição de uma cifra fracionante (tomográfica).

1861 O padre brasileiro José Francisco de Azevedo inventa a máquina de escrever. Além de matemático, era excelente mecânico. Ganhou medalha de ouro por um protótipo em 1861, em exposições no Pernambuco e no Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, só em 1868 Christopher Sholes registrou a primeira patente da máquina de escrever.

1863 Friedrich Wilhelm Kasiski nasceu em Novembro de 1805 numa pequena cidade da Prússia ocidental. Alistou-se no regimento de infantaria da Prússia oriental aos 17 anos e foi subindo de posto até chegar a comandante de companhia. Aposentou-se em 1852 como major. Apesar do interesse pela criptologia durante sua carreira militar, foi apenas nos anos de 1860 que começou a por suas idéias no papel. Em 1863, seu texto de 95 páginas Die Geheimschriften und die Dechiffrierkunst (As escritas secretas e a arte da decifração) foi publicado. Grande parte do conteúdo refere-se à solução de cifras polialfabéticas de chave repetida (a Cifra de Vigenère), um problema que estava atormentando os criptoanalistas durante séculos. Basta lembrar que a cifra de Vigenère era considerada inquebrável desde o século 17. Desapontado com a falta de interesse pelas suas descobertas, Kasiski voltou sua atenção para outras atividades, inclusive para a antropologia. Fez parte em pesquisas arqueológicas, além de escrever numerosos artigos sobre o assunto para jornais especializados. Morreu em Maio de 1881 sem ver reconhecida a importância dos seus achados criptoanalíticos.

1861-1865 Durante a Guerra Civil Americana, a União utilizou a substituição de palavras selecionadas seguida de uma transposição colunar enquanto que os Confederados usaram Vigenère (cuja solução tinha acabado de ser publicada por Kasiski).

1881 O austríaco Eduard Baron (Freiherr) von Fleissner von Wostrowitz (1825-1888) nasceu em Lemberg, filho de um oficial da cavalaria austríaca. Fez parte do Regimento Chevaux-légeres Número 6, em 1871 tornou-se comandante da escola de oficiais de Ödenburg, em 1872 foi promovido a comandante de divisão e em 1874 aposentou-se. Durante sua atividade militar ocupou-se com meios e métodos criptográficos e, em 1881, publicou em Viena seu livro Handbuch der Kryptographie (Manual de Criptografia). É o inventor da Grade Giratória que leva seu nome. Esta cifra foi usada por Júlio Verne na novela "Mathias Sandorf".

1890 Verne (1828-1905) Júlio Verne (1828-1905) utilizou a criptografia em três de suas novelas, "Viagem ao centro da Terra", "Mathias Sandorf" e "A Jangada".

1891 Bazeries (1846-1931) O major Etienne Bazeries (1846-1931), comandante francês, cria uma nova versão de cilindro cifrante, semelhante ao Cilindro de Jefferson. Oferece o aparelho ao exército francês, mas este foi rejeitado.

1893 Landell (1861-1928) As primeiras transmissões de sinais telegráficos e da voz humana em telefonia sem fio são realizadas em São Paulo, Brasil, pelo padre Roberto Landell de Moura (1861-1928). Apesar da presença de autoridades que comprovaram a eficácia do processo, o mérito de inventor da telegrafia sem fio acaba ficando com o italiano Marconi.
Fontes
  • Kahn, "The Codebreakers"
  • Müller, Didier (Cours de Cryptologie)
  • Ellison, Carl
  • Pommerenning, Kryptologie.
  • World Information

Texto publicado pela primeira vez na Aldeia em 6 de Junho de 2003.

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