Criptografia Numaboa
Submarinos da Kriegsmarine
Dom 7 Mar 2010 21:34 |
- Detalhes
- Categoria: História da Criptologia
- Atualização: Terça, 24 Janeiro 2012 20:16
- Autor: vovó Vicki
- Acessos: 6165
Uma das armas mais poderosas da Segunda Guerra Mundial foram os submarinos da Marinha de Guerra alemã (Kriegsmarine). Em 5 anos de atividades bélicas, os submarinos alemães afundaram 2.779 navios e, com eles, 14.41 milhões de toneladas de carga.
Um pouco de história
Devido ao Tratado de Versailles, firmado no final de Primeira Guerra Mundial, a Alemanha tinha sérias restrições em relação à construção de navios de guerra e submarinos. Com a chegada dos nazistas ao poder em 1933, Hitler passou a ignorar as limitações impostas por este e por outros tratados e partiu para um rearmamento explícito que incluía o chamado Plano Z. Este plano, finalizado em 1938, previa a construção de cerca de 800 navios nos próximos oito anos (1939-1947), incluindo 10 navios de guerra e cruzadores, 4 porta-aviões, 15 navios blindados (Panzerschiffe), 5 cruzadores pesados, 44 cruzadores leves, 158 destroyers e torpedeiros, 249 submarinos além de outras embarcações de guerra menores. O plano também incluía aumentar o efetivo para mais de 200.000 homens.
Como a renovação do Exército e da Aeronáutica acabou demandando muitos esforços e recursos, o plano naval não estava muito avançado quando a Segunda Guerra Mundial começou. Por este motivo, a Kriegsmarine não estava pronta para assumir um papel de destaque na guerra. Como a expectativa alemã era de uma rápida vitória por terra, o plano Z foi praticamente engavetado e os recursos inicialmente destinados para navios e barcos acabaram sendo aplicados principalmente na construção de submarinos. Ao todo, foram construídos 26 tipos diferentes de submarinos, chamados de U-boot, mas a estrela foi sem dúvida o modelo VII C.
O segredo do sucesso
Na minha modesta opinião, o segredo do sucesso dos submarinos alemães foi devido a alguns fatores:
- Um almirante altamente engajado e meticuloso que se envolvia pessoalmente com seus subordinados, estratégias e planos de ataque,
- Um efetivo muito bem preparado e motivado,
- Um domínio superior da tecnologia de construção naval e
- Um sistema de comunicações (quase) perfeito que deu muito trabalho aos Aliados até o final da guerra.
O Almirante Karl Dönitz (16.09.1891 - 24.12.1980), muito respeitado na Alemanha nazista apesar de nunca ter se filiado ao partido nazista, serviu como Comandante-em-Chefe de Submarinos (Befehlshaber der Unterseeboote) a partir de 19 de Setembro de 1939. Sob sua administração as frotas de U-boots combateram na Batalha do Atlântico tentando cortar os fornecimentos vitais vindos dos EUA e de outros países para Reino Unido.
Antes da guerra, Dönitz se empenhou em transformar a frota alemã numa frota composta quase que exclusivamente por submarinos. Defendia uma estratégia de ataque apenas dirigida contra a marinha mercante britânica, cujos navios eram alvos relativamente seguros de atacar. Insistia que a destruição da frota britânica de petroleiros resultaria na falta do combustivel necessário para que a Marinha Real mantivesse seus navios em funcionamento, o que seria tão eficaz como afundá-los. Dizia que, com uma frota de 300 dos mais recentes submarinos do tipo VII, a Alemanha conseguiria pôr a Grã-Bretanha fora de combate. Para lidar com os navios de escolta, propôs a tática Rudel, ou seja, a tática da alcatéia de lobos (numa alusão aos lobos do mar).
A tática da alcatéia consistia no seguinte: vários submarinos faziam patrulha numa determinada faixa de mar. Assim que um comboio de navios, que dava segurança a algum carregamento, era avistado por um deles, este não atacava, apenas seguia o comboio de longe e avisava o restante da frota. Quando todos se reuniam, o ataque era desfechado de todos os lados. Os navios do comboio começavam então uma perseguição e, enquanto alguns dos submarinos os atraíam para longe, o cargueiro era afundado pelos restantes.
A comunicação entre os submarinos alemães era feita usando mensagens cifradas pela máquina Enigma, a mesma de três rotores usada pelo exército e pela aeronáutica. No início de 1942, quando a guerra "oficial" ainda nem tinha começado e contrapondo-se à crença geral de que a Enigma era inviolável, Dönitz ordenou que sua frota de submarinos usasse um novo modelo da máquina cifradora com quatro rotores (ao invés de três) e mandou preparar livros com instruções de configuração (chaves, escolha e posição de rotores, combinações de stecker) diferentes para cada dia. A perspicácia de Dönitz acabou criando um capítulo à parte na história da Enigma e a maior dor de cabeça dos Aliados até praticamente o fim da guerra.
Por que escrevi este artigo
Escrevi este artigo e o coloquei na Criptografia da Aldeia porque o assunto está relacionado com a máquina de cifragem Enigma. Outro motivo, e talvez o principal, foi o de constatar mais uma vez que uma opinião firme pode fazer toda diferença: nem que o mundo todo acredite que o código Enigma seja inviolável, vou tomar minhas precauções...