Criptografia Numaboa
A Cifra de Bacon
Dom 4 Set 2005 23:43 |
- Detalhes
- Categoria: Supercifragens
- Atualização: Segunda, 13 Abril 2009 20:06
- Autor: vovó Vicki
- Acessos: 36212
A cifra de Bacon, criada ao redor de 1600, é bastante curiosa por que associa os métodos de substituição e de esteganografia.
Um pouco de história
Francis Bacon foi um filósofo, escritor e político inglês. Estudou no Trinity College, em Cambridge, e mais tarde em Londres. Em 1584 tornou-se membro do Parlamento e durante vinte anos exerceu atividade como advogado e político, conquistando fama de orador, escritor e causídico. Em 1613 tornou-se procurador geral e em 1616 foi nomeado Lord Chanceler e par do Reino com o título de Visconde de St. Albans. Acusado de suborno, foi condenado à prisão, multa e perda de cargo; o perdão, porém, veio em poucos dias. Bacon saiu da Tower (a Torre de Londres) e foi aposentado.
Algumas de suas obras, especialmente os seus Essays, estão entre as maiores contribuições feitas ao pensamento humano desde os tempos dos filósofos gregos. Outros livros igualmente importantes são New Atlantis, Life of Henry VII e The Advancement of Learning. De especial interesse é o capítulo I do livro VI da obra The Advancement of Learning, onde Bacon descreve minuciosamente a sua cifra, hoje conhecida como codificação binária de 5 bits.
Características
- Origem: Desenvolvida por Francis Bacon e publicada no livro VI, capítulo I do The Advancement of Learning.
- Classe: Substituição (binária de 5 bits) associada a esteganografia.
- Tipo: Monoalfabética tomográfica.
- Características: O texto cifrado é um texto que faz sentido e o texto claro está camuflado nesta mensagem aparentemente "normal".
- Segurança: baixa.
- Uso: Apenas interesse histórico.
- Criptoanálise: as características das letras da mensagem de cobertura fazem suspeitar do método esteganográfico.
A Cifra de Bacon
Letra | Grupo | binário | Letra | Grupo | binário | |
A | aaaaa | 00000 | N | abbaa | 01100 | |
B | aaaab | 00001 | O | abbab | 01101 | |
C | aaaba | 00010 | P | abbba | 01110 | |
D | aaabb | 00011 | Q | abbbb | 01111 | |
E | aabaa | 00100 | R | baaaa | 10000 | |
F | aabab | 00101 | S | baaab | 10001 | |
G | aabba | 00110 | T | baaba | 10010 | |
H | aabbb | 00111 | U/V | baabb | 10011 | |
I/J | abaaa | 01000 | W | babaa | 10100 | |
K | abaab | 01001 | X | babab | 10101 | |
L | ababa | 01010 | Y | babba | 10110 | |
M | ababb | 01011 | Z | babbb | 10111 |
Francis Bacon detalha seu sistema de substituição que usa um alfabeto de 24 letras onde I=J e U=V. Para cada uma das letras do alfabeto é atribuído um grupo de 5 caracteres compostos pelas letras "a" e "b". Como são utilizadas apenas duas letras para a formação dos grupos, considera-se esta cifra como sendo de expressão binária. Como os grupos são formados por 5 letras, considera-se a cifra como sendo de 5 bits.
A formação dos grupos segue uma sequência lógica, fácil de memorizar. Além disso, os "a" e "b" podem ser substituídos por 0 e 1, como mostrado na tabela ao lado.
O criptograma é preparado em duas etapas, começando pela substituição.
1a. Etapa: A Substituição
Vamos utilizar o sistema binário ao invés de "a" e "b" porque ele é menos confuso. Como exemplo, vamos cifrar a mensagem NUMABOA.
Texto claro | N | U | M | A | B | O | A |
Binário | 01100 | 10011 | 01011 | 00000 | 00001 | 01101 | 00000 |
Cifrando NUMABOA obtemos uma sequência de zeros e uns. Considerando que zero corresponde a um bit desligado e que 1 corresponde a um bit ligado, podemos transferir esta informação para qualquer texto "normal" que, de alguma forma, transmita esta informação. Apenas para ilustrar, usaremos negrito para destacar os bits ligados e normal para os desligados.
2a. Etapa: Escondendo a mensagem cifrada
Pode-ses usar qualquer texto para camuflar a mensagem cifrada. Tecnicamente esta camuflagem é chamada de cobertura. Como exemplo, uma frase de cobertura fazendo uma brincadeira: "Você sabia que SARS é o contrário de açúcars?"
Cobertura | V | o | c | ê | s | a | b | i | a | q | u | e | S | A | R | S | é | o | c | o | n | t | r | á | r | i | o | d | e | a | ç | ú | c | a | r | s | ? | ||||||||
Cobertura | 0 | 1 | 1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 | 1 | 0 | 1 | 0 | 1 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 1 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | ||||||||||
Cobertura | V | o | c | ê | s | a | b | i | a | q | u | e | S | A | R | S | é | o | c | o | n | t | r | á | r | i | o | d | e | a | ç | ú | c | a | r | s | ? |
Neste exemplo, o destinatário recebe a seguinte mensagem cifrada:
É claro que este método de estaganografia é muito óbvio mas, por incrível que pareça, muita gente vai pensar que a impressora está com problemas e... nada mais. É claro que Bacon fazia uso de um sistema de esteganografia um pouco mais sofisticado - utilizava a caligrafia com dois alfabetos: um alfabeto para os bits ligados e outro, com discretas diferenças, para os bits desligados. Estes alfabetos eram denominados por Bacon de "biformados".
Observe, por exemplo, a letra "d": existe a versão com o traço vertical liso (a versão "a" ou de bit desligado) e a versão com a extremidade enrolada (a versão "b" ou de bit ligado). As diferenças entre os dois "E" maiúsculos são bem mais evidentes e entre os dois "a" minúsculos são quase que imperceptíveis.
É interessante notar que Bacon antecipou-se à sua época usando um sistema muito semelhante ao sistema binário atual. Aliás, com 5 bits, o número de letras e símbolos do seu alfabeto poderia ser 32 (25), e não somente 24 letras como sugerido originalmente.
BACONISMO
Baconismo é a teoria que sustenta que Francis Bacon seria o autor das peças de William Shakespeare. Muitos adeptos desta teoria procuraram na grande edição de 1623 um código que confirmasse esta tese. Elizabeth Wells Gallup publicou o resultado das suas pesquisas em 1899 no livro intitulado The Bi-literal Cypher of Sir Francis Bacon in his works and Deciphered by Mrs Elizabeth Wells Gallup. Dois criptoanalistas de renome, William Friedman e sua esposa Elizabeth, fizeram uma abordagem científica do problema e refutaram as "descobertas" de Elizabeth Wells Gallup: as ampliações fotográficas mostraram que as diferenças entre os caracteres manuscritos deviam-se somente a deformações, a manchas de tinta ou a imperfeições no papel.
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