A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

Leia mais...

Criptografia Numaboa

A Cifra de Bacon

Dom

4

Set

2005


23:43

(43 votos, média 4.56 de 5) 


A cifra de Bacon, criada ao redor de 1600, é bastante curiosa por que associa os métodos de substituição e de esteganografia.

Um pouco de história

Bacon
Francis Bacon
(1561-1626)

Francis Bacon foi um filósofo, escritor e político inglês. Estudou no Trinity College, em Cambridge, e mais tarde em Londres. Em 1584 tornou-se membro do Parlamento e durante vinte anos exerceu atividade como advogado e político, conquistando fama de orador, escritor e causídico. Em 1613 tornou-se procurador geral e em 1616 foi nomeado Lord Chanceler e par do Reino com o título de Visconde de St. Albans. Acusado de suborno, foi condenado à prisão, multa e perda de cargo; o perdão, porém, veio em poucos dias. Bacon saiu da Tower (a Torre de Londres) e foi aposentado.

Algumas de suas obras, especialmente os seus Essays, estão entre as maiores contribuições feitas ao pensamento humano desde os tempos dos filósofos gregos. Outros livros igualmente importantes são New Atlantis, Life of Henry VII e The Advancement of Learning. De especial interesse é o capítulo I do livro VI da obra The Advancement of Learning, onde Bacon descreve minuciosamente a sua cifra, hoje conhecida como codificação binária de 5 bits.

Características

  • Origem: Desenvolvida por Francis Bacon e publicada no livro VI, capítulo I do The Advancement of Learning.
  • Classe: Substituição (binária de 5 bits) associada a esteganografia.
  • Tipo: Monoalfabética tomográfica.
  • Características: O texto cifrado é um texto que faz sentido e o texto claro está camuflado nesta mensagem aparentemente "normal".
  • Segurança: baixa.
  • Uso: Apenas interesse histórico.
  • Criptoanálise: as características das letras da mensagem de cobertura fazem suspeitar do método esteganográfico.

A Cifra de Bacon

Knowledge
Knowledge of Cyphers to
the Knowledge of Writing
LetraGrupobinário LetraGrupobinário
Aaaaaa00000 Nabbaa01100
Baaaab00001 Oabbab01101
Caaaba00010 Pabbba01110
Daaabb00011 Qabbbb01111
Eaabaa00100 Rbaaaa10000
Faabab00101 Sbaaab10001
Gaabba00110 Tbaaba10010
Haabbb00111 U/Vbaabb10011
I/Jabaaa01000 Wbabaa10100
Kabaab01001 Xbabab10101
Lababa01010 Ybabba10110
Mababb01011 Zbabbb10111

Francis Bacon detalha seu sistema de substituição que usa um alfabeto de 24 letras onde I=J e U=V. Para cada uma das letras do alfabeto é atribuído um grupo de 5 caracteres compostos pelas letras "a" e "b". Como são utilizadas apenas duas letras para a formação dos grupos, considera-se esta cifra como sendo de expressão binária. Como os grupos são formados por 5 letras, considera-se a cifra como sendo de 5 bits.

A formação dos grupos segue uma sequência lógica, fácil de memorizar. Além disso, os "a" e "b" podem ser substituídos por 0 e 1, como mostrado na tabela ao lado.

O criptograma é preparado em duas etapas, começando pela substituição.

1a. Etapa: A Substituição

Vamos utilizar o sistema binário ao invés de "a" e "b" porque ele é menos confuso. Como exemplo, vamos cifrar a mensagem NUMABOA.

Texto claroNUMA BOA
Binário011001001101011 00000000010110100000

Cifrando NUMABOA obtemos uma sequência de zeros e uns. Considerando que zero corresponde a um bit desligado e que 1 corresponde a um bit ligado, podemos transferir esta informação para qualquer texto "normal" que, de alguma forma, transmita esta informação. Apenas para ilustrar, usaremos negrito para destacar os bits ligados e normal para os desligados.

2a. Etapa: Escondendo a mensagem cifrada

Pode-ses usar qualquer texto para camuflar a mensagem cifrada. Tecnicamente esta camuflagem é chamada de cobertura. Como exemplo, uma frase de cobertura fazendo uma brincadeira: "Você sabia que SARS é o contrário de açúcars?"

CoberturaVocê sabia que SARS éo contrá rio de açúc ars?
Cobertura0110 01001 101 0110 00 000000 101 10 1000 00
CoberturaVo cê sabia que SARS éo contrá rio de açúc ars?

Neste exemplo, o destinatário recebe a seguinte mensagem cifrada:

Você sabia que SARS é o contrário de açúcars?

Alfabetos de Bacon
Alfabetos biformados de Bacon

É claro que este método de estaganografia é muito óbvio mas, por incrível que pareça, muita gente vai pensar que a impressora está com problemas e... nada mais. É claro que Bacon fazia uso de um sistema de esteganografia um pouco mais sofisticado - utilizava a caligrafia com dois alfabetos: um alfabeto para os bits ligados e outro, com discretas diferenças, para os bits desligados. Estes alfabetos eram denominados por Bacon de "biformados".

Observe, por exemplo, a letra "d": existe a versão com o traço vertical liso (a versão "a" ou de bit desligado) e a versão com a extremidade enrolada (a versão "b" ou de bit ligado). As diferenças entre os dois "E" maiúsculos são bem mais evidentes e entre os dois "a" minúsculos são quase que imperceptíveis.

É interessante notar que Bacon antecipou-se à sua época usando um sistema muito semelhante ao sistema binário atual. Aliás, com 5 bits, o número de letras e símbolos do seu alfabeto poderia ser 32 (25), e não somente 24 letras como sugerido originalmente.

BACONISMO

Baconismo é a teoria que sustenta que Francis Bacon seria o autor das peças de William Shakespeare. Muitos adeptos desta teoria procuraram na grande edição de 1623 um código que confirmasse esta tese. Elizabeth Wells Gallup publicou o resultado das suas pesquisas em 1899 no livro intitulado The Bi-literal Cypher of Sir Francis Bacon in his works and Deciphered by Mrs Elizabeth Wells Gallup. Dois criptoanalistas de renome, William Friedman e sua esposa Elizabeth, fizeram uma abordagem científica do problema e refutaram as "descobertas" de Elizabeth Wells Gallup: as ampliações fotográficas mostraram que as diferenças entre os caracteres manuscritos deviam-se somente a deformações, a manchas de tinta ou a imperfeições no papel.

Informações adicionais