Calendários na Mesopotâmia
Ter 2 Ago 2005 16:37 |
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- Categoria: Calendários
- Atualização: Domingo, 24 Agosto 2008 21:27
- Autor: vovó Vicki
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A técnica de medir o ciclo anual parece ter sido um feito dos sumérios. Há mais de 6.000 anos este povo, provavelmente originário da Ásia Central e com uma cultura semelhante a da primitiva civilização hindu, instalou-se entre os rios Tigre e Eufrates, numa região que hoje corresponde ao sul do Iraque e se estende desde os arredores de Bagdá até o Golfo Pérsico. Os sumérios dividiam esta área com um outro povo, os acadianos.
O calendário sumeriano
Os astrônomos sumerianos, grandes observadores e conhecedores dos mistérios celestes, criaram um calendário que dividia o ano em 12 ciclos lunares (meses) de 30 dias, ou seja, o ano tinha 360 dias. Cada mês tinha nomes que indicavam as épocas de determinadas atividades como: período das queimadas, da semeadura, da colheita, do cozimento dos tijolos, dos cultos religiosos, etc. O dia do calendário tinha início ao anoitecer e foi dividido em 12 períodos, ou seja, é como se a "hora sumeriana" correspondesse a 2 das horas atuais. Dividiram também estes períodos em 30 partes, como se cada "minuto sumeriano" correspondesse a 4 minutos.
Civilização de uma cultura invejável (apesar do calendário meio capenga, como veremos logoa adiante), os sumérios viveram pacificamente durante cerca de 3.000 anos. Elaboraram leis, construíram cidades-estado como Ur, Uruk, Lagash, Eridu e Nipur, desenvolveram um sistema de escrita muito eficiente, a chamada escrita cuneiforme, possuiam escolas, bibliotecas e dedicavam-se principalmente à agricultura e ao comércio. Esta civilização adiantada e rica acabou despertando o interesse dos vizinhos até que, ao redor de 2.300 a.C., foram invadidos e subjugados pelos acadianos. Apesar de serem os conquistadores, os acadianos, de civilização bem menos adiantada, acabaram absorvendo os conhecimentos e alguns dos costumes dos conquistados, acrescentando muito pouco ao que já se sabia na época.
Ao redor de 2.100 a.C. o calendário lunar dos sumérios/acadianos já estava muito difundido e seu sucesso, provavelmente, foi devido ao progresso econômico. O tempo de um empréstimo de cevada poderia ser medido em ciclos de Lua, um homem que contratasse um empregado por um ano no mês lunar de Kislimu saberia que o ano havia terminado quando chegasse novamente o mesmo mês e os prazos de pagamento podiam ser estabelecidos com facilidade. Mas havia um grave inconveniente.
Observando melhor o ciclo da Lua, os astrônomos chegaram à conclusão de que havia meses de 29 e meses de 30 dias. Isto fazia com que o ano lunar tivesse 354 dias. E mais. Os calendaristas perceberam que o calendário lunar sofria uma defasagem em relação às estações do ano, as quais dependem do Sol. Era preciso alinhar o ano lunar comercial com o ano solar, importantíssimo para a agricultura. Resolveram então intercalar um mês, que chamaram de iti dirig, para compensar a defasagem. Acontece que o iti dirig, de acordo com necessidades reais ou imaginárias, era usado sem critério e cada cidade fazia o que achava melhor. Por exemplo, inseriam 11 meses em 18 anos ou dois meses no mesmo ano. Resultado: o calendário sumeriano virou uma verdadeira bagunça.
O calendário babilônico
Depois de mais algumas refregas, a região mesopotâmica foi conquistada pelos amoritas que fundaram o Império Babilônico. Seu rei mais famoso, que viveu de 1792 a.C. a 1750 a.C., foi Hamurabi (Khammu-rabi), criou um conjunto de leis para proteger a propriedade, a família, o trabalho e a vida humana, hoje conhecido como Código de Hamurabi.
Na Mesopotâmia, agora sob domínio babilônico, o ano solar era dividido em duas estações - o "verão", que incluía a colheita da cevada na segunda metade de Maio ou começo de Junho, e o "inverno" que, a grosso modo, corresponde ao outono-inverno dos dias de hoje. Nos reinos mais ao Norte, como a Assíria e a Anatólia, contavam-se três e quatro estações. Para os babilônios, no entanto, a bipartição do ano parecia a mais natural.
Ao redor do século XVIII a.C., o Império Babilônico padronizou o ano adotando o calendário lunar da cidade sagrada sumeriana de Nipur. Mais tarde, o Império centralizou a intercalação de meses, mas foi somente ao redor de 380 a.C., quando os persas dominavam a região, que os calendaristas conseguiram calcular uma equivalência quase perfeita do ciclo lunissolar de 19 anos e de 235 meses inserindo um mês nos anos 3, 6, 8, 11, 14, 17, e 19 do ciclo.
O poder e o prestígio cultural da Babilônia assegurou o sucesso do ano lunar, o qual começava no primeiro dia de Nisamu, na Primavera. Os nomes dos meses babilônicos eram Nisanu, Ayaru, Simanu, Du'uzu, Abu, Ululu, Tashritu, Arakhsamna, Kislimu, Tebetu, Shabatu, Adaru. Um mês Adaru adicional, o Adaru II, era intercalado seis vezes em cada ciclo de 19 anos, menos no décimo sétimo. Neste ano, inseria-se o mês Ululu II. O calendário babilônico, até cair em desuso, ainda preservava vestígios da bipartição do ano natural em duas estações e os meses babilônicos continuaram essencialmente lunares, começando quando a Lua Nova era vista pela primeira vez no começo da noite. Os dias começavam com o por do Sol e relógios de água e de sol serviam para contar as horas.
A influência do calendário mesopotâmico
O calendário mesopotâmico, apesar de não ser perfeito (o nosso também não é ), foi incorporado aos usos e costumes dos estados vizinhos e vassalos mesmo depois da queda do Império Babilônico. O calendário judeu, adotado por este povo no século VI a.C. durante o exílio babilônico, conservou além de outros detalhes, um sistema de intercalação de meses muito parecido e os nomes dos meses por muito tempo.