A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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Acontece cada uma!

Mamão, o marido da mamona

Qua

22

Nov

2006


19:05

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Esta é de lascar. O pior é que veio do governador(???) do meu estado, o Paraná: segundo Roberto Requião, conhecido como "Maria louca", o mamão só pode ser o marido da mamona!

Transcrevo aqui na íntegra o artigo publicado no dia 18.11.06 no jornal O Estado de São Paulo:

Quem degusta mamona...

A população do Paraná, certamente um dos Estados da Federação mais modernos e vocacionados para o desenvolvimento, quase se livrou, nas últimas eleições, de um dos políticos mais retrógrados destes tristes trópicos. Infelizmente, não conseguiu, pois Roberto Requião se reelegeu governador, por mínima diferença de votos. De mentalidade reacionária, no pior sentido do termo, Requião sempre exibiu sua ojeriza a tudo o que signifique pesquisa científica, evolução tecnológica e avanço no desenvolvimento de sistemas de produção.

Como demonstração bem simbólica de seu profundo desconhecimento no campo da biologia, o governador paranaense foi protagonista de uma cena vexatória, há pouco tempo exibida pelos telejornais: encontrava-se ele em reunião com o presidente Lula, que lhe falava das qualidades da mamona para a produção do biodiesel e lhe mostrava um exemplar do fruto, capsular ovóide, da família das euforbiáceas. Talvez por pensar, pelo nome, que se tratava do feminino de mamão, o governador pôs a mamona na boca e começava a degustá-la quando foi advertido pelo presidente, com incontida risada, de que aquilo era tóxico - ao que Requião expeliu a mamona no ato.

Eis por que não foi surpresa alguma o decreto, por ele assinado, desapropriando os 127 hectares de propriedade da empresa multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, que desde 1987 ali mantém um importante centro de pesquisas destinado ao aperfeiçoamento genético de sementes, com vistas à evolução tecnológica na produção agrícola. Trata-se da maior empresa no campo do desenvolvimento de sementes e defensivos agrícolas instalada no Brasil, onde fatura US$ 800 milhões por ano. Recorde-se que, em março deste ano, aquele centro fora invadido por mil integrantes do movimento Via Campesina - bando internacional de agricultores europeus subsidiados, cultores da violência e do vandalismo, e que, por isso mesmo, conta com o apoio dos cúmplices caboclos que atuam sob a bandeira do MST. O bando já fizera outros estragos, como os praticados em 2003 contra a Monsanto, em Ponta Grossa (PR), e, mais recentemente, contra a Aracruz, em Barra do Ribeiro (RS).

Cinco dias após a invasão ao centro de pesquisas da Syngenta Seeds a empresa obteve na Justiça um mandado de reintegração de posse. Os invasores não obedeceram à ordem judicial e a Justiça determinou desocupação com força policial, que não foi cumprida no prazo porque o juiz levou quase três meses para conseguir entregar a notificação ao governador. A invasão causara perda potencial de quatro ou cinco anos de trabalho de pesquisa, pela danificação de sementes melhoradas ou em vias de melhoramentos, chamadas germoplasmas: 7 mil linhagens e 8 mil híbridos guardados cuidadosamente por pesquisadores ao longo dos últimos 20 anos. Na ocasião dissera um executivo da empresa: “Agora, as sementes plantadas para utilização em pesquisa estão sendo usadas para alimentar porcos e galinhas dos invasores.” Os invasores só acabaram saindo da área depois que a Justiça determinou multa diária de R$ 50 mil, a ser paga pelo Estado.

O decreto expropriatório faz menção à intenção, do governo paranaense, de implantar no local “área de pesquisa voltada ao desenvolvimento de modelos agrícolas sustentáveis”. Trata-se de mero pretexto para verdadeiro confisco, pois em quantas outras áreas e centros o governo não poderia desenvolver pesquisas científicas de qualquer teor? A desapropriação “não tem necessidade, nem utilidade, nem interesse público”, como reitera o advogado da empresa, que com toda a razão recorrerá à Justiça. Mas, mesmo que a multinacional obtenha ganho de causa, pelo menos duas conseqüências profundamente deletérias hão de ter o ato irresponsável do governante: primeiro é o estímulo a bandos vandálicos como o dessa Via Campesina, que age com profundo desprezo às leis e à Justiça do País. Segundo é o desestímulo completo aos investidores estrangeiros, principalmente os que atuam no campo da pesquisa científica. Pois como confiar na capacidade de discernimento e valorização científica de um Estado governado por um degustador de mamona? Tratar-se-ia, realmente, de jogar pérolas (ou sementes) aos porcos.

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