EcoAldeia
Baratas e Ecologia
Qua 30 Jul 2008 00:00 |
- Detalhes
- Categoria: Meu ecossistema
- Atualização: Terça, 16 Fevereiro 2010 12:18
- Autor: vovó Vicki
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A ecologia sempre foi para mim um negócio muito complicado. Por exemplo, matar barata é anti-ecológico? Se não for, as baratas não fazem parte do meu ecossistema; se for, então é uma agressão ao meio ambiente. Preciso confessar que detesto baratas e que fico nesta incômoda situação de ter que definir se sou ou não uma agressora do meu ecossistema domiciliar quando dou uma chinelada numa barata que resolve passear na minha casa à procura de alimento.
A barata é um inseto espantoso. Vive neste planeta há cerca de 320 milhões de anos, o que significa que é um dos seres vivos com as melhores condições de adaptação e um dos mais hábeis em achar alimento. Não me lembro onde li certa vez que as baratas não morrem nem com irradiação atômica. Barata consegue se alimentar com praticamente qualquer coisa, desde animal morto, restos de comida, madeira, papel, tecidos e até cola. Aliás, descobri que barata adora uma cerveja (assim como eu). Insistem em fazer um happy hour em garrafas que não foram lavadas, bebem os restinhos e ficam "pra lá de Bagdá". Não passariam pelo teste do "bafômetro" e ficam tão sonsas que nem reagem direito à aproximação de um chinelo.
Os machos possuem asas, mas são desajeitados pra caramba quando voam. As baratas são seres de hábitos noturnos - é durante a noite que saem para procurar alimento e para paquerar. As bichinhas são tão resistentes que conseguem ficar 3 dias sem água e até 2 meses sem alimento. Nos seus passeios, estes insetos cascudos deixam um rastro de fezes que serve para que encontrem o caminho de volta. Credo, que nojo!
A anatomia das baratas também é um assombro. A cabeça por exemplo. A cabeça das baratas, além dos olhos, das antenas e de um poderoso aparelho bucal, também abriga um cérebro. É isso mesmo, barata tem cérebro, só que não deve ser muito importante porque uma barata pode viver por mais de uma semana sem a sua cabeça! Aliás, ela não morre porque perdeu a cabeça, ela acaba morrendo de sede!
As pernas das baratas são um fenômeno da "tecnologia" da natureza. São três pares, ou seja, cada barata tem 3 pernas de cada lado. O par da frente serve como freio quando elas querem parar; as pernas do meio se movem para frente e para trás, servindo para aumentar ou diminuir a velocidade; o par de trás impulsiona as baratas para frente. Este sexteto de pernas poderosas permite que uma barata percorra uma distância de 50 vezes seu tamanho em apenas um segundo. Sabe lá o que é isso? É como se nós pudéssemos correr a 320 km/h!!!
Por estas e por outras, minha razão diz que este bicho é um ser indestrutível (a não ser que esteja alcoolizado), um manual jurássico de "sobrevivência na selva". Mas, apesar do que diz minha razão, continuo detestando baratas... e acho que não sou a única :blush:
Mas vamos voltar ao tema. Se eu "chinelar" uma barata, quais serão as consequências? Em princípio, nenhuma. Vou atuar como predadora, mas daquelas bem "reba" que matam por matar, mesmo porque não passa pela minha cabeça caçar uma barata para matar a minha fome. Quem faz isto são as formigas, que adoram este petisco. Aliás, na minha parca experiência ecológica, estes são os únicos predadores que pude observar comendo o "bem bom" de baratas e deixando como sobra a "casquinha" marrom destes insetos. Aprendi mais tarde que, além de petisco para formigas, as baratas também são alimento para pequenos répteis e mamíferos.
Existem cerca de 4.000 espécies de barata... baratinhas, baratas e até baratões com mais de 10 cm de comprimento. A maioria delas não se intromete na nossa vida, são até bem discretas. Aquela barata nojenta que aparece na casa da gente é a Blatella germanica, esta sim, uma peste. Além de invadir residências, ela é campeã em reprodução: uma barata alemã e suas crias podem gerar até 300.000 baratas em apenas um ano! Mas a imensa maioria das baratas são boazinhas. Elas se alimentam de madeira e folhas decompostas e ajudam a incorporar estes restos orgânicos, mais decompostos ainda, como nutrientes no solo. Imaginem só, humus por conta de cocô de barata!
Apesar de detestar as baratas intrometidas (depois desta pesquisa acabei achando que as baratas boazinhas até que são simpáticas), estes insetos me ensinaram uma grande lição: Se eu matar uma barata alemã que se transformou numa praga mundial devido à falta de predadores mais eficientes, então estou apenas cumprindo meu papel de predadora que está zelando pelo equilíbrio ecológico; se eu acabar com todas as baratas que existem na face da Terra, vou quebrar a cadeia alimentar de uma porção de outros predadores que, por falta de baratas, vão invadir a minha casa; se eu acabar com os predadores naturais das baratas, elas é que vão invadir a minha casa e não vai ter chinelo que dê conta do recado
O importante não é a barata que morreu porque invadiu minha cozinha, o importante é o EQUILÍBRIO!
Curiosidade
Embora as baratas sejam parentes próximas dos cupins, elas não são tão sociais quanto eles. As colônias de cupins têm uma estrutura social organizada, em que vários membros têm funções diferentes. As baratas não têm esses tipos de funções, mas elas costumam preferir viver em grupos. Um estudo na Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, revelou que grupos de baratas tomam decisões coletivas sobre o local onde viver. Quando um espaço era grande o suficiente para todas as baratas no estudo, todas elas permaneciam lá. Quando, porém, o espaço grande não estava disponível, as baratas se dividiam em grupos iguais para caberem no menor número de áreas diferentes.
Outro estudo sugere que as baratas têm uma inteligência coletiva formada pelas decisões de cada barata. Os mesmos cientistas criaram um robô chamado InsBot, que era capaz de imitar o comportamento da barata. Os pesquisadores aplicaram feromônios de barata no robô para que as baratas de verdade o aceitassem. Aproveitando a tendência das baratas de acompanharem umas às outras, o InsBot foi capaz de influenciar o comportamento de grupos inteiros e inclusive de convencer as baratas a deixarem a sombra e se moverem para áreas iluminadas. Os cientistas desenvolvem a teoria de que robôs parecidos poderiam ser usados para conduzir animais ou para controlar a população de baratas.