EcoAldeia
Trombada ecológica
Seg 4 Ago 2008 21:58 |
- Detalhes
- Categoria: Meu ecossistema
- Atualização: Terça, 16 Fevereiro 2010 12:58
- Autor: vovó Vicki
- Acessos: 10393
Dando vazão à minha "febre ecológica", vou contar mais um "causo". Desta vez é sobre um gavião que, pelo seu tamanho, é chamado por estas bandas de gaviãozinho. Antes de falar sobre a distribuição geográfica, características da espécie, hábitos e classificação científica, vamos ao tal "causo"
Do lado esquerdo da minha casa há uma área de pasto em declive suave que vai desde o espigão (o topo do morro por onde passa a estrada asfaltada) até o fundo do vale onde está o ribeirão. Nesta área de vegetação baixa existem algumas árvores relativamente altas, excelentes pontos de observação para aqueles que conseguem se empoleirar nos galhos mais altos, um bosque no topo e algumas capoeiras rodeando várias minas d'água. Deu para imaginar o cenário? Qualquer ave predadora que se preze ficaria encantada com um lugar como este. Apesar de não ser uma delas, eu também, ao invés de morar na cidade, prefiro morar aqui - não no galho de uma das árvore, mas ao lado desta paisagem maravilhosa.
Como não podia deixar de acontecer, se a topografia e as condições são propícias, as aves de rapina logo descobrem o local e já faz um bom tempo que um casal de gaviões tomou posse do pedaço. Saem em vôos planados maravilhosos e conversam muito num tom que não tem nada a ver com canto - é grito de guerra mesmo, um aviso de que conseguiram uma refeição apetitosa. Pois bem, depois de toda esta introdução, aqui vai meu depoimento pessoal.
Como o território destes gaviões está muito próximo da nossa casa, não é raro poder observá-los de perto. O que eu nunca poderia imaginar é que esta convivência tão próxima quase terminasse em trombada. O gavião macho estava no alto de uma paineira, só observando. Quando achou uma presa, que por acaso estava no nosso jardim, despencou num vôo batido (já explico o que é isto) dando o maior rasante. Neste exato momento saio pela porta da frente e fico no meio da rota de vôo do gaviãozinho. Conseqüência: o piloto de caça desviou no último segundo e eu, num reflexo que não sabia ser capaz de ter, dei uma abaixada. Foi o que nos salvou. Não tomei um gaviãozinho na cabeça e ele também conseguiu se safar. Meio assustado, pousou na primeira árvore que viu pela frente e ficou parado por um bom tempo, meio sem entender o que havia acontecido. Foi nestes poucos momentos que pude observar relativamente de perto aquele bólido voador.
Tinha uma cauda relativamente longa para o seu tamanho, com listras brancas horizontais. O peito era meio carijó, cinza e branco na vertical. Foi tudo o que consegui ver depois do susto e da surpresa. Pensei... "Mãos à obra, vó Vicki. Depois dessa, toca descobrir quem é este tal de gaviãozinho".
Vôo Batido: O vôo batido, também conhecido como vôo picado, é muito rápido e ideal para curtas distâncias. O predador fica à espreita num poleiro alto e literalmente despenca sobre a presa para capturá-la no solo, na água ou em vôo.
Classificação científica
O gaviãozinho é classificado como:
- Classe: Aves
- Ordem: Ciconiiformes (antiga Falconiformes)
- Família: Accipitridae
- Gênero: Accipiter
- Espécie: A. striatus
- Outros nomes: gavião miúdo, Sharp-shinned hawk (inglês), Epervier brun (francês)
A partir de 2005 várias espécies foram agrupadas como Accipiter striatus: a própria Accipiter striatus, a Accipiter chionogaster, a Accipiter ventralis e a Accipiter erythronemius, mas isto não significa que estas sejam as únicas espécies do gênero, mesmo porque a família Accipitridae tem uma distribuição mundial... êta gaviãozinho bom de sobrevivência!
Distribuição geográfica
Os Accipiter podem ser encontrados no mundo todo. Os A. striatus são encontrados desde o Alasca até o norte da Argentina, mas com um detalhe - em áreas descontinuadas (existem alguns pontos onde não são vistos). No Brasil, preferem a região sul (sorte minha, pois é onde moro!). Outras espécies brasileiras de Accipiter são o A. poliogaster, o A. superciliosus, o A. bicolor.
Habitat
Os habitats são os mais variados, dependendo da região. Isto significa que os "bichinhos" têm uma capacidade de adaptação muito boa, motivo pelo qual não estão na lista das espécies ameaçadas. Apesar de toda a adaptação, pontos altos, bosques e florestas (ou pelo menos árvores) são necessárias para a sua sobrevivência, pois são especialistas em vôos batidos.
Mas o que acontece se não têm a chance de caçar com vôos batidos? Também se adaptam: passam a fazer vôos planados à procura de presas. Vôos planados são aqueles em que sobem e ficam circulando até que encontram a refeição do dia e descem "que nem rojões".
Características
O gaviãozinho macho é um pouco maior que um sabiá - mede cerca de 27 cm e pesa entre 85 e 125 gramas. Como é típico nas aves predadoras, as fêmeas são maiores - medem cerca de 30 cm e pesam de 145 a 215 gramas. Os espécimes jovens têm uma cor marrom-acinzentada e pupilas amarelas; o peito dos adultos é marcado por listras horizontais irregulares cor de ferrugem, as asas e o dorso tornam-se cinza chumbo e as pupilas adquirem um tom vermelho que assusta qualquer presa. Tanto os jovens, quanto os adultos, possuem as listras horizontais claras na cauda bastante longa.
A tradução do nome popular em inglês destas aves é "falcão de canela fina" (short-shinned hawk), e esta é mais uma das características da espécie: têm uns "gambitos" sem penas muito fininhos cobertos por escamas. Para compensar, os dedos do gaviãozinho são longos e terminam em garras muito longas e incrivelmente afiadas, usadas para a captura. São capazes de perfurar com facilidade as presas, lesando seus órgãos internos. O bico é forte e curvo, também típico das aves de rapina, para que possam arrancar pedaços das presas capturadas para se alimentar - as preferidas do A. striatus são aves menores.
Os sons do Gaviãozinho
Ouça e identifique os sons emitidos pelos gaviãozinhos. Os dois foram gravados por Gustavo S. Cabanne: