Órfãos sem papel
Sex 23 Jul 2010 04:21 |
- Detalhes
- Categoria: dalton
- Atualização: Sexta, 23 Julho 2010 04:23
- Autor: Dalton Sponholz
- Acessos: 10791
Aqui no interior a gente vê um fenômeno esquisito. Como em qualquer canto num mundo que está se globalizando a gurizada está integrada entre si e com o planeta por conta das vias digitais. É torpedo, lan house, twitter, orkut, e-mail, como em qualquer lugar. Navega, pesquisa, interage. Mas estes jovens são tutoreados em casa e na escola por professores e familiares que não tem a mínima intimidade com este admirável mundo novo. Parece que isto gera uma esquizofrenia coletiva, já que precisam transitar entre dois lados (de um lado, gosto de opostos, como diria a Adriana), um digital, no qual fluem muito melhor que a geração anterior e outro, de cadernos e quadro-negro, que lhes soa teatral mas que é o natural daqueles a quem precisam se submeter. Dicotomia maluca.
Falando nisso, peguei um jornal pra ler, um destes de papel. Só porque alguém comprou e deixou na mesa. Um colunista dizia lá que o jornal de papel vai sobreviver à revolução digital. Por que? Porque, segundo ele, só o jornal de papel consegue mostrar as notícias diferenciando as mais importantes das menos, já que umas ficam em cima, outras embaixo, umas tem textos maiores, outras menores, e só o papel mostra isso em um olhar, na internet tudo faz parte da mesma lista de manchetes. Que argumentação de alguém desesperado! Vá lá meditar pra achar alguma explicação pra gente continuar a ler notícias em papel, mas não apele! Se existe algo que a digitalização das mídias conseguiu fazer foi a hierarquização da informação, já que as redes sociais permitem que o próprio usuário replique e dê destaque ao que interessa e deixe desaparecer o que não interessa. Se chegou por RT é porque no mínimo alguém achou que mais gente deve ler. Descobri depois que o desespero acontece agora porque nesta semana o Jornal do Brasil, depois de um século e quase duas décadas de circulação diária, anunciou que só vai existir na internet, chega de papel – todo mundo da área tremeu nas bases e tá tentando convencer (quase implorar) ao público que continue comprando o cadernão impresso. Fiquem calmos, os pais e os professores de quem falei ali em cima ainda vão ler as coisas no papel por um tempo (se bem me questiono se são interessados em informação atualizada).
Lembro de uma vez, quando eu era adolescente e estava numa roda com meus primos. Nem lembro qual era o assunto, só lembro da minha prima assustada repreendendo a outra dizendo “ei, fale baixo, tem adultos perto”! Sempre existiu este muro separando as gerações, os novos vivem a incompreensão dos mais velhos e tem a ilusão de estarem um passo a frente daqueles que, na verdade, já venceram a juventude, já passaram de nível no game da vida e estão realmente à frente pra ser modelo e referência. Mas essa ilusão fica perigosa a partir do momento em que os novinhos realmente dominam com intimidade as ferramentas do novo mundo e deixam de fora até sem querer aqueles que não conseguiram acompanhá-los porque já estavam formados enquanto o mundo mudava. Quem se torna modelo e referência aí, no lugar dos pais e professores?