Uma árvore, um filho e um blog
Sab 10 Abr 2010 03:11 |
- Detalhes
- Categoria: dalton
- Atualização: Sábado, 10 Abril 2010 03:59
- Autor: Dalton Sponholz
- Acessos: 13290
Semana passada escrevi um post chamado “Síndrome de Estocolmo”. Mas somente o último suspiro do texto mostra a ponta do iceberg do que gerou o título. Título pesado demais para o que o texto em si trata, peço desculpas. O que acontece de verdade é que eu tinha visto uma matéria sobre uma menina que, sequestrada, libertada anos depois não queria mais conviver com a mãe porque se apegou ao sequestrador que a mantinha presa no porão – isto é Síndrome de Estocolmo, ela gerou vínculo com alguém que a tratava com violência a ponto de não querer desligar-se e voltar à vida normal com sua mãe que a ama. Chocado com a notícia, comecei a refletir sobre nuances deste mecanismo que podem existir dentro de cada pessoa, e questionar se algumas saudades que eu sinto são geradas por amor, por carência ou por algum mecanismo semelhante ao que gera esta síndrome. Optei por escrever sobre o assunto mas acabei indo pra outro lado, processando em tempo real de escrita as informações que me pipocaram entre o coração e a mente.
Dizem que antes de morrer um homem precisa plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Isto para que sua vida seja continuada entre os vivos de alguma forma. Bom, pensei... se você não plantou uma árvore ainda, cuide de comprar produtos de empresas que tenham compromisso social, com o meio ambiente, ou contribuir com instituições que promovam o reflorestamento ou a preservação da natureza, isto já faz uma diferença para o mundo que você vai deixar para trás. E alguém que não tenha um filho (e também não queira adotar um) pode colaborar com uma instituição que dê futuro a crianças abandonadas ou comprar produtos de uma empresa que destine parte de seus lucros a instituições assim – atenção especial a quem se preocupa com as adolescentes na Índia, que são vendidas para redes de prostituição ou às meninas da China, que chegam a ser jogadas no lixo como se fossem raspa de louça lavada. Fazer algo por estas vidas pode representar muita coisa para o amanhã. E preocupar-se com isto já resolve dois dos problemas acima.
Mas a parte do livro começou a incomodar um bocado quando encarei os fatos, porque não dá para terceirizar. Pensei de repente sobre quanto processamento cerebral e consumo de fosfato e quanto desgaste emocional já vivi contemplando o universo que me cerca, chegando às minhas próprias interpretações e conclusões sobre a fantástica aventura da existência. Tanto, e tudo estaria perdido e enterrado comigo se um raio caísse na minha cabeça ou um poste atravessasse meu caminho, como que um arquivo deletado sem querer. E a única certeza que tenho é que minha trajetória aqui na Terra tá pra acabar – demore um segundo ou noventa anos. Se útil ou inútil não posso saber, mas pelo menos o que der do que levo aqui dentro precisa ser backupeado antes que eu seja deletado! Não tou escrevendo um livro para isto, daí a topar escrever este blog quando a simpaticíssima vovó Vicki me fez o convite. Um pouco do que vai por aqui fica por aí, e vai se perpetuar além de minha própria vida. Ufa!
Falando nisso, morreu ontem o Ivo, vocalista do Blindagem, quem deu melodia e vida a muito texto do Paulo Leminski. Saudades, Ivo. Não deixou um livro (nem um blog!), mas deixou LP's, CD's e MP3. Deixou também dois filhos. Será que plantou uma árvore?