Têmpera e revenido
Sex 19 Mar 2010 00:47 |
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- Categoria: dalton
- Atualização: Sexta, 19 Março 2010 00:47
- Autor: Dalton Sponholz
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Poderia ser o nome de um casal. “Oi, sou Revenido, esta é minha esposa Têmpera”. E não duvido que este casal exista por aí. Mas é o nome de um processo de tratamento térmico para a fabricação de peças de aço com alta resistência mecânica. “O material é aquecido até a temperatura de austenitização” (juro que procurei até no dicionário e na wikipedia o que significa isto aí, mas fica por conta da sua imaginação, se não souber, porque não achei – mas pode crer que é bem quente) e depois resfriado bruscamente. “Durante o resfriamento, a queda de temperatura promove transformações estruturais que acarretam o surgimento de tensões residuais internas” – esta parte me chamou a atenção na descrição do processo, porque é comum nos seres humanos esta reação de tensões residuais internas após um esfriamento...
Não só o aço é “melhorado” na base do tratamento de choque (do bem quente ao bem frio bruscamente). O leite também se torna “longa vida” por processo bem igualzinho, o chamado U.H.T. (Ultra High Temperature) – é esquentado lá nas alturas por alguns segundos e resfriado de repente. Mas, que engraçado, não funciona direito isto pra melhorar pessoas – as tais “tensões residuais internas” promovem um processo de destruição da humanidade que há no indivíduo quando ele passa por um processo senoidal de bem-estar para mal-estar, ou de verdade para mentira, ou de confiança para desconfiança. Meu ex-chefe dizia que é fácil fabricar um louco: basta submeter um sujeito são a um processo que funciona, não funciona, funciona, não funciona de novo, agora funciona, e parou de funcionar de novo – a estabilidade intelectual e emocional vai pro caneco. Não saber se pode-se contar com alguém, não saber se pode-se confiar em alguém, ter acesso livre e negado a alguém revezadamente gera o que a Bíblia chama, em outro contexto, de “paredes no coração” (Jr. 4:19) – isolamento emocional, o solitário na multidão. O Pink Floyd (leia-se Roger Waters) falou disso de modo magistral quando criou “The Wall”.
Assim como um graveto duro pode ser quebrado quando se força-o alternadamente para um lado e para outro, submeter uma pessoa a um processo alternado de carga emocional é de quebrar. Mas, sabe, não deixa de gerar resistência, também. Afinal, parede é coisa dura.