Montando o inimigo
Qui 12 Nov 2009 21:51 |
- Detalhes
- Categoria: dalton
- Atualização: Sexta, 12 Março 2010 01:42
- Autor: Dalton Sponholz
- Acessos: 8966
Sou um caso típico de TDAH. Com predominância em desatenção. Tiro boas notas nos testes sobre o assunto. Por sorte, descobri isto lendo o livro ("Mentes Inquietas") da Dra. Ana Beatriz Silva, que logo de cara me mostrou que tenho várias vantagens em ser um transtornado deste tipo. Tá, meu universo interior, agora que entendi como são as pessoas normais, seria como uma cidade com milhares de placas de neon piscando, congestionamentos, buzinas, música ao vivo nas esquinas e discussões em todas as calçadas nas quais muita gente se esbarra o tempo todo mas no fim se dá bem. Enquanto isso quem tá do lado de fora de mim vê só um sujeito pacato e paradão (pelo menos enquanto não o deixam irado). Deve ser esquisito isso. De repente entendi porque ninguém me entende.
Foi engraçado de uma hora pra outra encontrar explicações para quase tudo o que sempre fui e fiz. E começar a resolver as coisas que mais me incomodam em ser assim. Descobrir que é possível ser organizado, é possível não chegar atrasado aos compromissos, é possível não esquecer as coisas importantes. Meu mundo mudou! Mas uma característica terrível demora a ser entendida e aproveitada: o fluxo gigantesco, monstruoso, astronômico de ansiedade que há dentro de mim. É sim, atrás dessa cara calma tem um sujeito elétrico e desesperado igual àquele esquilo dos "Sem Floresta". Este tal fluxo é destruidor quando me controla. Estraga minha relação com tudo o que não é eu e comigo também. Faz as coisas parecerem diferentes do que são (normalmente piores), faz cansar antes de começar, faz perder a iniciativa, faz andar pra trás. Mas não é pra ser assim! Esta ansiedade é um cavalo chucro que precisa ser montado e domado! A favor do portador, ela é uma bateria com carga extra pra uma maratona e meia! Quando sou eu quem a controla, aumento, ou melhor, multiplico muitas vezes meu potencial e amplio meu poder de fogo nas atividades que mais me estimulam.
Triste é que o conhecimento sempre pensa que entende melhor a realidade que a vivência. Antes de descobrir que é possível domar o tal cavalo chucro, empolgado pelo livro que li (a doutora é uma médica psiquiatra), procurei um profissional desta área. Poucas palavras e uma receita na mão, anti-depressivo pra controlar a ansiedade. Não vou negar que foi uma maravilha me sentir normal por alguns meses. Simplesmente desligaram o animal bravo que me incomodava, meteram tranquilizante nele, o bicho dormiu e me deixou em paz! Mas quem disse que o legal é ser normal? Gente assim tem em toda esquina. Quando vi que ia depender da medicação pro resto da vida se quisesse continuar normal, voltei a experimentar ser transtornado, larguei mão da pílula mágica. E, vou dizer, deu muito, mas muito, mas muito mais trabalho. E ainda dá. Mas a emoção de montar a ansiedade, puxar as rédeas e levá-la onde eu quero, possibilitando viver a jato em pioneirismo, criatividade e espontaneidade, não se compara a cumprir a agenda da normalidade. Aiiiôôôô, Silver!