Quem corrige?
Sex 7 Ago 2009 17:44 |
- Detalhes
- Categoria: dalton
- Atualização: Segunda, 01 Fevereiro 2010 23:13
- Autor: Dalton Sponholz
- Acessos: 8637
Vou continuar no clima de flashback, falando de quando dava aulas numa faculdade de Comunicação. Já falei de duas mudanças de postura que facilitaram meu relacionamento com os alunos e contribuíram para um melhor aproveitamento das aulas. Vou falar de uma terceira, que acho que seria mais importante que as outras duas, talvez até dispensasse as outras, mas que não depende só do professor para ser aplicada.
Minha prima Liriam, que é doutora em Relações Públicas em Leipzig, Alemanha, contou que onde ela trabalha (muito longe daqui) não é o professor quem avalia os alunos. Lá, professor ministra aulas, mas quem examina os alunos é uma banca, da qual ele não faz parte. O professor não se envolve com notas, não diz se o aluno é bom ou ruim, não interfere nos resultados (pelo menos não diretamente). Achei excelente a idéia! Aquela carga de emoções negativas das pressões das avaliações, dos prazos dos trabalhos, dos brancos, das injustiças quanto a questões ou respostas mal-compreendidas jamais será associada à pessoa do professor, o que também significa, além do fato de possibilitar (enfim!) uma amizade tranquila entre professores e alunos, que não vai interferir no aprendizado, na assimilação das aulas que são ministradas por aquele professor.
O momento que transformava vários alunos que eram amigos meus em desafetos era justamente o pós-avaliação. É difícil aceitar que o resultado de uma avaliação não é culpa do avaliador. Imaginar que eu pudesse entrar na sala de aula para ministrar conteúdo, dirimir dúvidas, sugerir caminhos de aprendizado, compartilhar experiências, ajudar a preparar a turma para enfrentar o futuro (seja a prova da semana que vem, seja o mercado de trabalho, sejam seus relacionamentos, seja a vida), mas nunca para colocá-los na parede, fiscalizá-los contra a cola, interpretar suas respostas e julgar se elas significam preparo ou despreparo, seria o paraíso acadêmico.
Sugeri a idéia alemã à chefia, mas a sugestão ficou na área dos não-dás. Então fiz algo parecido, o máximo que dava sozinho. Criei um sistema eletrônico de geração de provas de múltipla escolha que corrigia automaticamente as provas. Metade das avaliações passaram a ser feitas no laboratório de informática, neste sistema. Os alunos entravam, sentavam em frente aos computadores, liam as questões que o sistema escolhia para eles e clicavam sobre a resposta que lhes parecia mais correta. Ao clicar na décima resposta recebiam o resultado no mesmo instante. Incrível, mesmo os decepcionados com a nota não ficavam mais com raiva de mim por causa dela, pareciam compreender muito melhor que a falta de preparo com o conteúdo estava neles mesmos e não no professor.
Já disse por aqui que não gosto de estudar e que me sinto um peixe fora d'água em meio acadêmico, mas este é o terceiro post consecutivo em que eu falo sobre minha experiência como professor universitário. Esquisito, né? Mas tudo tem sua explicação, apesar de que o coração tenha razões que a razão desconhece.