A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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O professor mau e o mau professor

Qui

30

Jul

2009


20:26

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Continuando meu post anterior, matando as saudades do tempo em que bancava o mestre, quero falar de outra mudança de postura que tornou possível dar aulas em uma disciplina que era antipática para a maioria dos meus alunos.

Acontece que nas primeiras vezes em que entrei numa sala de aula como professor eu quis ser diferente de todos os professores maus que tive na vida. Pra não ter a postura arrogante e tirana que a figura legendária do professor carrega, eu disse para as turmas "eu sou alguém como vocês, nada mais que isso, um colega de profissão que já tem alguma experiência para compartilhar". Esta apresentação me garantiu a simpatia de boa parte dos alunos, mas por muito pouco tempo.

 

Num mundo ideal, os alunos deveriam se esforçar para aprender e aproveitar a boa vontade de um colega que está ali para mediá-los e orientá-los na busca do conhecimento e da experiência. Num mundo no qual os alunos passaram o dia trabalhando, estão cansados e com muita vontade de ir embora, que carregam problemas familiares, profissionais e pessoais para onde vão, não tem praticamente tempo para si mesmos e usam as poucas horas de seus dias que lhes sobram pra correr atrás de um diploma e melhorar sua condição ou dar passos na direção de suas metas malucas de crescimento e carreira, a galera simplesmente respira aliviada quando tem a sensação de "oba, com este professor é moleza passar porque ele é legal", e a disciplina vai pro chão da lista de prioridades. Como eu não lembrava disso? Eu já fui aluno, caramba! Fato é que, na hora de ver os resultados, o professor por legal que seja precisa registrar notas baixas se for honesto. E nessa hora me tornei o inimigo número um de uma porção de gente, porque "gente legal não reprova" e se eu "fosse amigo mesmo não poderia deixar a nota como ela é".

 

Depois de ter enfrentado até um ou dois abaixo-assinados pra ser substituído e muita ira de muita gente, com chutes em carteiras, portas batendo, gritaria, grosserias, e muita reclamação na coordenação pedagógica a meu respeito, resolvi mudar meu jeito de me apresentar. Nas turmas seguintes, cheguei no primeiro dia de aula dizendo "gente, desculpe, eu sou um destes professores maus de quem vocês precisam ter medo. Se ao concluirmos este semestre você não tiver aprendido o conteúdo que for ministrado aqui, você vai reprovar. Eu vou reprovar você. Vou fazer isso porque tem gente séria nessa sala, que vai ter um diploma desta faculdade por mérito, e, se alguém tiver um diploma similar sem o merecimento, vai reduzir o crédito de quem realmente está preparado para o mercado de trabalho. Fique preparado, para passar na minha disciplina, você vai ter que saber. Sem dó, sem chance, sem jeitinho". Eu via gente assustada, branca, com olhos arregalados na minha frente. Mas terminava o semestre com muitos amigos novos. E dei aula por mais cinco anos, sem iras, revoltas e sem nenhum novo pedido de substituição.

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