Pega-varetas
Qui 7 Mai 2009 22:43 |
- Detalhes
- Categoria: dalton
- Atualização: Segunda, 01 Fevereiro 2010 20:19
- Autor: Dalton Sponholz
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Quem já não quis dar de encontro a uma aparição, uma luz que surgisse em sua frente respondendo a todas as suas angústias, fizesse aparecer do nada um carrão, uma casa, um bilhete de loteria sorteado, uma mousse de chocolate e a coleção dos CD's dos Mutantes, e que ainda por cima revelasse quem vai vencer a corrida de domingo (ou qualquer coisa equivalente)? Se Deus é mesmo o Todo-Poderoso, por que é que não faz como os gênios das lâmpadas das histórias e das piadas? Não é egoísmo criar o universo e guardar todo o seu poder para si mesmo?
Só quem já brincou de pega-varetas tem alguma idéia de por quê Deus não mexe nas coisas como gostaríamos que mexesse (quem já assistiu o Jim Carrey no O Todo-poderoso também, mas aí estraga a metáfora). Se você não lembra, o joguinho consistia em derrubar uma porção de varetinhas aleatoriamente, formando um monte de varetas emaranhadas, e cada jogador tinha que retirar uma a uma sem mover as demais. Assim é a vida, assim é o universo. Retire uma vareta, e derrube uma montanha delas (no filme isso ficou bem demonstrado em vários pontos... um pequeno embelezamento da lua, aproximando-a um pouco, causou catástrofes em todo o planeta).
Mas o triste é que enquanto alguém se frustra por não andar o tempo todo sobre as águas, não flutuar, não atravessar paredes, não enxerga que o curso natural das coisas é o maior milagre que pode ser contemplado. Em um cisco de areia que é o planeta Terra no universo encontra-se um conjunto de ecossistemas complexíssimo e inteligente, que interage de modo maravilhoso. Segue sem se dar conta de que os oceanos com todo aquele volume de águas estão lá no lugar deles, e assim as nuvens, a bolha atmosférica azul, as vidas voadoras, andadoras, rastejantes e nadadoras, que a cadeia alimentar segue se renovando, que é possível acordar, respirar, viver, amar, conhecer, admirar, abraçar, correr, deitar, degustar, sentir... e conjugar mais uma infinidade de verbos que são muito mais que a língua que representa suas ações e prova a inteligência desta forma de vida que sabe se comunicar. Putz, é delicioso curtir o ser, mesmo sem entendê-lo de todo.
Há um Deus que trabalha a favor de tudo que é bom. Um criador perfeito. Tão perfeito que criou a liberdade. Interfere na vida de toda pessoa que solicita, como um pai acode um filho que chama, mas sem interferir na liberdade de ninguém. Como ninguém é alguém em si, mas todos são parte de algo maior, mexer com alguém inevitavelmente é mexer com todos. Cada movimento no universo gera uma reação em cadeia. E só mesmo um Deus consegue quantificar seus movimentos de modo a responder a cada filho sem desmontar o sistema livre que, desde que criado, segue seu curso independente, e que não se auto-destruiu porque o próprio criador intervém sempre que chamado, com todo o cuidado de quem move as varetas sem alterar o monte como quando nasceu em forma de criatura, viveu, morreu e ressuscitou pra mostrar quem é. Tem problema aí? Quem vê cara não vê solução!