Eles passarão, eu passarinho
Sex 12 Dez 2008 01:21 |
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- Categoria: dalton
- Atualização: Quarta, 20 Janeiro 2010 22:45
- Autor: Dalton Sponholz
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Toda escolha, mesmo no singular, é renúncias, no plural. Escolher caminhar para o norte significa renunciar caminhar em todas as outras direções da rosa dos ventos. Não dá pra abraçar o mundo, quem tudo quer tudo perde, já dizem os ditados, porque não é possível burlar este princípio. É preciso saber escolher para renunciar somente às coisas que podem ser deixadas pra lá. Escolher exige sabedoria, noção clara de prioridades. Escolher muitas vezes é doação, entrega, e é sempre um abrir mão. Já falei por aqui antes sobre o problema que é escolher.
E já falei aqui também sobre liberdade, inclusive ilustrei meu texto com este poema do Mário Quintana que estou usando como título aqui. E já falei de compromisso. Liberdade e compromisso, dois princípios que precisam andar juntos nas escolhas. Não é possível ser independente, não é possível não precisar de outros, mas é preciso se sentir livre mesmo se estando assim preso. É necessário vincular-se, é base de ser gente esse negócio de sentir segurança nos vínculos, seja dos amigos, seja da família, seja do par romântico. E é tão fina a linha que separa o respeito à liberdade da necessidade de vínculo.
É bom jogar comida para os passarinhos do jardim, e se sentir dono dos bichinhos que vão e vem enfeitando a paisagem. Mas ser dono do livre que é totalmente livre não é tudo. Os passarinhos que vão e vem não têm nome, não se pode esperar o mesmo passarinho de volta para buscar a quirera. No jardim só importa que haja passarinhos, seja lá quem sejam. Mas isso não preenche o coração, dentro de casa quem entra não é passarinho, precisa ter nome, precisa ser conhecido, precisa ter conquistado confiança, precisa ter cativado, precisa estar vinculado. E o lado de dentro não é só para permitir ver passarinhos pela janela.