A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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O avesso do jabá

Qui

23

Out

2008


23:14

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Divertido o que a Revolução Digital faz. Não bastasse a convergência maluca das mídias, possibilitando estes aparelhos que a gente leva no bolso sem saber se é uma câmera fotográfica que telefona, toca músicas e conecta à internet ou se é um telefone que tira fotografias, toca música, manda e-mail e sintoniza a TV, agora outro paradigma sólido do século XX começa a ser quebrado de modo que enfim parece absoluto: a forma como a gente obtém as músicas que quer escutar. Os fabricantes de telefones celulares (o que eles têm a ver com isso?) estão propondo uma nova forma de comercialização de músicas baseada em uma assinatura fixa mensal que permite baixar quantas e quais músicas se quiser, e sem proteção nos arquivos. Uma nova era para o inocente ouvinte!

No século passado (cruzes falar em século passado, sendo que eu nasci lá!) a indústria descobriu que podia pegar o trabalho dos músicos, transformar em produto e vender na prateleira dos supermercados, através desde os discos tocados por agulhas até os tocados por raio laser. E estavam felizes com isso. Pra que a gente quisesse comprar os ditos, pagavam uma taxa (carinhosamente apelidada de jabá ou "jabaculê") para que as estações de rádio tocassem as músicas mais legais dos discos e acostumassem o ouvinte com elas, de modo que viesse a querer comprar o material para ouvir a qualquer hora. As rádios também tinham programas do tipo ligue, peça e ouça, para os quais você telefonava e, todo contente por perceber sua voz ouvida por todo mundo, pedia pra ouvir o que quisesse, desde que fosse qualquer das músicas cujo jabá já estivesse acertado (quando meu gosto musical começou a dar uma refinada, apanhei muito das rádios, elas nunca mais aceitaram tocar o que eu pedia... no máximo um Twist and Shout com os Beatles depois que o Curtindo a Vida Adoidado passou no Supercine).

De repente, um povo que não tem nada a ver com a indústria cultural muito pelo contrário, até, se olhar bem inventou um caminho pelo qual tudo pode ser distribuído em formato digital e aquele monte de ouvintes acostumados a procurar música no rádio sem precisar pagar por isso passou a apelar à internet pra fazer a mesma coisa. O engraçado foi que as mesmas gravadoras que viciaram o público nisso com seu jabá ficaram iradas quando perderam o controle do que acontecia. Inocentemente, o ligue, peça e ouça virou procure no Kazaa e as gravadoras chamaram isso, agora, de crime. O mais legal é que surgiu também a possibilidade de gente como a menina Mallu Magalhães (olha ela ali embaixo), que usou o presente de quinze anos para pagar um estúdio e produzir quatro composições próprias, publicar na nova mídia seu trabalho, usando um site de relacionamentos, e estourar no gosto dos ouvintes sem ter poder de tiro pra molhar a mão das estações de rádio.

E enfim a indústria, não a cultural mas a de tecnologia de informação (que diferença faz, né? Tá tudo convergindo!), parece estar propondo um modo de permitir que gente escute música usando de bom senso em meio a este consumismo louco. Você vai pagar pelo serviço de ter música à disposição, e não mais pela música que, convenhamos, não é produto. Voltamos ao telefone, agora o celular com conexão à internet: ligue, peça e ouça!

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