Um plá de quem sou agora, com a convicção de quem serei daqui a pouco
Qui 7 Ago 2008 20:56 |
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- Categoria: dalton
- Atualização: Quarta, 13 Janeiro 2010 00:54
- Autor: Dalton Sponholz
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O que sou agora não é o que fui agora há pouco ou o que serei dentro de pouco tempo. Tem milhões de reações químicas acontecendo dentro de mim. Hormônios, feromônios, enzimas e outras substâncias neuroquímicas tentam decidir por mim o que preciso e o que quero. Interessante ser um organismo sistemático. Pensei nisso hoje quando, gripado e com frio, pensei comigo o quanto praia me soa repugnante. Logo praia, o ambiente que mais amo (não hoje; hoje não gosto de praia, não quero praia; sai pra lá, praia).
Este modo dinâmico de ser me faz pensar o quanto é necessário que algumas decisões sejam tomadas acima do que sou ou quero em determinado momento, ou não haverá segurança na minha caminhada, posso acabar sendo como uma folha em queda sendo levada pelo vento; neste caso, o vento das minhas emoções orgânicas. Decidir amar, por exemplo. Na Bíblia, amar não é sentimento, mas um mandamento. É no imperativo. Ame a Deus de todo o coração e toda a alma (Dt. 10:12), ame a seu próximo como a si mesmo (Mt. 22:39), ame a sua esposa como Cristo amou a Igreja (Ef. 5:25). E isto faz todo o sentido. Meus sentimentos voam com o passar das minhas necessidades. Como acontece na fome, em que em uma semana posso adorar pizza de banana e na outra não querer nem ver na frente, principalmente se me excedi na semana em que adorava. Assim, gostar de alguém nasce de diversos fatores, como minhas carências, minha capacidade de empatia, meu grau de maturidade, meu humor, todos coisas dinâmicas que diariamente mudam de acordo com as circunstâncias, o crescimento e o passar do tempo. Amar precisa estar acima do gostar e não pode depender dele, ou fica impossível amar. Assim, compromisso, aliança, precisa estar acima do fazer sentir bem, porque a mesma coisa que hoje me faz sentir bem amanhã pode me fazer sentir mal e depois de amanhã voltar a me fazer sentir bem. A solidez só pode vir da palavra dada, e não da sensação sentida.
Mas falar isso às vezes me faz sentir um alienígena na sociedade em que estou. Afinal, casamentos são tratados como escolha para ser feliz, e abandonados tão logo perceba-se (ou sinta-se) que não será fácil ser feliz por ali. Empregados são tratados com o nome de recursos humanos ou capital humano, e descartados tão logo deixem de ser lucrativos de outro lado, empregos são vistos como degraus para crescimento profissional, e não há também compromisso com o empregador, senão o que resulta no pagamento do trabalho prestado. Enfim, relações são tão longas quanto o bem que delas advém, e tão descartáveis quanto possam não representar lucro por algum caminho. Uai, para que eu continue na caminhada destas convicções, remando contra a maré, sem achar que sou um alienígena, convém que eu entenda que estas convicções devem estar acima das sensações (e olhares) que elas causam.