Quem vê caca não vê coração
Qui 31 Jul 2008 22:56 |
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- Categoria: dalton
- Atualização: Quarta, 13 Janeiro 2010 00:41
- Autor: Dalton Sponholz
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A Rita Lee disse numa entrevista dia desses que mora em apartamento separado do Roberto de Carvalho porque esse negócio de ver o marido cagando e peidando na sua frente todo dia estraga a magia do amor. Hum, eu gosto da tia Rita, mas vou ter que discordar. Espero que ela não tenha terceirizado a criação dos filhos por achar que trocar fralda suja desfaz a beleza de ser mãe, também. Na minha opinião, a beleza de estar no toilet junto do cônjuge fazendo massagem em sua barriga em momentos de prisão-de-ventre é um exemplo de algo que alimenta o encanto de ter alguém sendo uma vida só consigo. Ver uma pessoa que é externa a seu próprio ser nas mesmas condições em que se costuma ver apenas si mesmo é, a meu ver, uma situação alimentadora de um vínculo único e profundo. Intimidade se constrói com intimidade.
A tentativa de negação de que somos seres orgânicos, excretores, contaminados, ou, pegando leve, ecossistemas ambulantes cheios de formas de vida que nos habitam e parte de um sistema maior no qual habitamos, pode até ser saudável em algumas situações bem específicas, como quando tornamos cultural o defecar em ambientes forrados de assépticos e insípidos azulejos inorgânicos estéreis, em um vaso de porcelana idem, com uma válvula aquática que nos separa de todo o material que, por já não nos servir, botamos pra fora. Tal costume sem dúvida deve ter reduzido astronomicamente o número de doenças às quais nossos antepassados estiveram expostos, já que não somos instintivamente como os gatos que enterram o cocô tão logo terminam o libidinoso expurgo. Por outro lado, quando essa negação vai ao extremo de levar ao esquecimento de que somos pó (não é preciso ser creacionista pra perceber que tudo o que compõe o que somos vem do húmus, que é a ponta de toda a cadeia alimentar) e nos afasta do convívio integrado à vida que há externamente, a saúde mental e emocional entra em jogo.
Banheiro é pra ser ambiente estéril (mesmo assim, que passe-se pouco tempo lá, só o suficiente). Mas há uma assepsia que pode não ser saudável em outro lugar, o mundo onde tanta gente dia após dia penetra e concentra suas principais atividades, do trabalho aos relacionamentos, fechados em quartos cuja visão é uma janela acesa de ícones, menus, letras e movimentos multimídia. Há uma proteção ali que permite que pessoas vivam relacionamentos, entretenimentos e emoções sem precisar entrar em contato consigo mesmas ou com a verdade de seus companheiros virtuais, e distancia as pessoas daquilo que realmente são, isso ameaça seu equilíbrio. Rolar na grama, correr descalço na praia, comer mexerica do pé, correr atrás de galinhas (pode ser de cachorros, pra ser um pouco mais urbano), subir em árvores, dar risada com a turma e abraçar gente, muita gente de verdade dessas que tem cheiro de roupa limpa, como diria o Jota Quest, e exala feromônio de verdade; são coisas que não deveriam ser um luxo nem estarem guardadas para as férias; são coisas que não podem ser substituídas. O espaço físico tá ficando caro, raro e perigoso, mas que não entre em extinção em nossas vidas. Imprime isso aqui e deixe pra ler lá fora, tomando sol!
E segue mais um pouco de merchandising gratuito, em homenagem ao tema...