A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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Para trás e adiante!

Qui

24

Jul

2008


23:47

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Lembrei de uma consulta com meu cardiologista. Ele estava me receitando dois tipos de comprimidos, depois que eu disse quais eram os sintomas. Eu perguntei: Isso é necessário? Ele me respondeu que não poderia receitar férias, logo... Bom, esse é o problema. Que tempo é esse, que faz com que se remende as coisas, se cure um mal com outro, e trate-se tudo como normal? Nem lembro que comprimidos eram aqueles ou para que serviam, não preciso dizer que nunca comprei-os.

Não gosto do modo como se levam as coisas. As pessoas não dão-se o direito de elaborar cada um de seus lutos, vão aos anti-depressivos e tocam a vida como se emoções fossem um luxo. Entregam-se a novas atividades nos momentos em que deveriam relaxar e pensar sobre sua caminhada, usam pílulas para tirar as dores de cabeça ao invés de dar a seu organismo a chance de não ser abusado. E justificam tudo a si mesmas, substituindo os sonhos pelas metas tangíveis que, desse modo, mesmo que alcançadas pouco poderão ser verdadeiramente desfrutadas. Ui.

O foco do que estou falando hoje é o tal do remendo, que falei ali em cima, no primeiro parágrafo. O tentar curar um mal com outro. Gente estranha essa que trata de sintomas e não de causas. Cada remédio traz em sua bula a lista dos efeitos colaterais. Mas parece que questionar se vale a pena arriscar detonar com o estômago para tirar a dor das costas ficou fora de cogitação.

Neste cenário, quero elogiar com gosto uma iniciativa da Vovó Vicki, nossa querida anfitriã aqui na Aldeia. Diante de um problema chato, a proliferação exagerada de pombos em sua região e sua consequente propagação de doenças, ela não contratou um atirador profissional pra dar cabo dos passarinhos no chumbo, não colocou milho envenenado nas praças, não pôs arapucas nos telhados. Ao contrário, abriu sua fazenda para o estudo do repovoamento da região com pássaros que são predadores naturais de pombos, os falcões. Devolver à natureza o que lhe foi tirado, ao invés de tirar mais da natureza. A presença de predadores diminui naturalmente a quantidade de uma praga (não simplesmente porque é morta pelos seus predadores, isso até acontece pouco, mas porque cada animal sabe onde corre perigo e onde não deve se expor). Fantástica idéia, não? Voltar um pouco para reequilibrar, ao invés de ir mais adiante e ver se mais mexidas consertam estragos feitos por mexidas anteriores (Leia mais sobre isso no artigo "A arte da falcoaria", escrito pela Vovó aqui na Aldeia)

Aí penso na ciência, que é a estranha religião destes tempos, e sua corrida para melhorar o mundo criado. Os sacerdotes deste credo fabricam novas formas de vida (as chamadas transgênicas) utilizando-se do código genético das que existem, como hackers (ou deveria dizer crackers?) da vida, esquecendo-se que cada modo de vida é apenas um módulo do sistema cósmico. Bom, se você já teve alguma vez que formatar o HD do seu computador e reinstalar tudo após tentar instalar um software, um codec ou um módulo de sistema que desestabilizou o conjunto, sabe que tipo de risco a gente corre quando alguém instala um novo tipo de soja, laranja, vaca ou até coisas ainda inominadas, no disco do planeta. Ui, de novo.

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