A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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Biblioteca da Aldeia

Oremos, mictemos e saremos

Ter

12

Jun

2007


17:40

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Mário Prata

Não faltava mais nada nesse final de milênio. Mais nada. Imagine você que a Igreja Católica Apostólica Romana, através de uma Pastoral lá de Pernambuco, está mandando seus fiéis beberem urina. Vou repetir: beberem urina. Deu num dos principais jornais de São Paulo.

A nova "encíclica" chama-se urinoterapia. E, segundo uma freira (e contumaz bebedoura), já tem mais de 20 mil católicas ingerindo o que o próprio corpo repeliu. Diz que a urina sara tudo. Incluindo nesse tudo câncer e (pasmem!) Aids. Para reumatismo é tiro e queda!

Tem gente que toma logo cedo, misturada com tamarindo. Outros tomam gelada, outros ainda com o calor que ela traz em si mesma.

Lendo as matérias, várias dúvidas afloraram dentro de mim, principalmente na região da bexiga. Diz lá que um homem urina um litro e meio, em média, por dia. Bom negócio para aqueles beberrões de cerveja que não param de fazer xixi. Quando os alemães descobrirem a urinoterapia, vão exportar tonéis. No lugar do Leite da Mulher Amada, virá o Xixi da Mulher Amada.

Outro problema é este. Diz um padre irlandês (outro viciado no líquido), que mora há mais de vinte anos no Brasil, que homem não pode tomar xixi de mulher e vice-versa. Por quê? Liguei imediatamente para o meu velho pai e médico, que teve, durante mais de 30 anos, Laboratório de Análises Clínicas. Disse nunca ter notado nenhuma diferença. Acho, portanto, que é preconceito dos padres. Será que é para evitar que a pessoa tome o xixi na própria fonte?

Eu, se tal excremento fosse mesmo inevitável, gostaria de saber a fonte. De onde veio? De quem era? Será que vão surgir Bancos de Urina? Eu não gostaria, por exemplo, de tomar xixi de japonês, sei lá por quê. Deve ser muito mais amarelo.

E se a moda chega aos bares? Já pensou? "Por favor, uma dose de xixi on the rock!" E o garçon: "Copo alto ou baixo?".

Tem xixi escuro? Caipirinha de xixi (com muito açúcar)? Quantas pedras de gelo? Nos bares mais sofisticados vão nos oferecer xixi escocês. Claro que o Paraguai vai nos mandar xixi falsificado.

Um dia, baterá nas nossas praias o Xixi da Lata. Basta um copinho por dia que a dor logo passa.

Uma fã do tratamento diz que "a primeira do dia é a mais salgada". Mas não explicou se isso é bom ou ruim. Para manter a saúde, não são necessários seis litros por dia. Basta um copo da "primeira urina fresca da manhã". Aquela mesma, a salgada. Já para câncer é que são necessários seis litros por dia.

Alguns padres não gostam do termo urinoterapia, sugerindo que o método fique conhecido como "medicina agradável". Que coisa mais desagradável... Outro padre chega a afirmar que "a urina é a água da vida".

Será que nos semáforos as criancinhas vão pedir "um troquinho de xixi para a minha mãe que está com reumatismo"? Acontecerão assaltos: "O xixi ou a vida"!

Haverá xixi congelado para se tomar no futuro? Você chega no bar e o garçon vem oferecer: "Esse é do bom. Do Maranhão, safra 93". Aí ele serve uma gotinha, você experimenta e pede, como manda a educação, para ele servir primeiro as moças.

Nos supermercados, xixi enlatado. Sabor framboesa, limão, com mate. O Pepsi-xixi. Propagandas: "Agora, sem aminoácido". Ou: "Sabor natural". Ou ainda: "O Ministério da Saúde adverte: xixi faz mal à saúde." "Não bebam xixi na frente das crianças." E, por aí, vai.


Mário Prata
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