A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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A história de Kevin Mitnick contada por Kevin Mitnick

Sex

22

Jun

2007


21:09

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O primeiro contato

Meu primeiro encontro com Markoff aconteceu no final dos anos 80 quando ele e sua esposa Katie Hafner fizeram contato comigo enquanto estavam escrevendo Cyberpunk, que é a história de três hackers: um jovem alemão conhecido como Pengo, Robert Morris e eu. Qual seria a minha compensação por participar? Nada. Não consegui entender porque deveria relatar a minha história para eles lucrarem com isto e eu não, por isto me recusei a ajudar. Markoff me deu um ultimato: ou você concede a entrevista ou tudo que ouvirmos de qualquer fonte será aceito como verdade. Ele estava nitidamente frustrado e aborrecido pelo fato de que eu não iria cooperar e estava me avisando que possuía meios para fazer com que eu me arrependesse. Decidi ficar na minha e que não iria cooperar apesar das suas táticas de pressão. Publicado, o livro me apresentava como "The Darkside Hacker".

Concluí que os autores haviam incluído intencionalmente declarações não comprovadas, falsas, só para se vingarem pela minha falta de colaboração. Fazendo meu personagem parecer mais sinistro e mostrando-me sob uma luz falsa, eles provavelmente aumentaram a venda do livro. Um produtor de cinema me telefonou para dar uma grande notícia: Hollywood estava interessada em fazer um filme sobre o Darkside Hacker descrito em Cyberpunk. Alertei que a história estava cheia de inexatidões e inverdades sobre mim, mas ele continuava muito animado com o projeto. Aceitei US$5.000 por uma opção de dois anos, com um adicional de US$45.000 se eles conseguissem um acordo de produção. Quando a opção expirou, a companhia pediu uma prorrogação de seis meses. Nesta época eu estava com um emprego bom e não tinha motivo nenhum para ajudar a produzir um filme que me mostrasse de forma tão falsa e desfavorável. Recusei a prorrogação. Isto acabou com o acordo do filme para todos, inclusive Markoff, que provavelmente esperava ganhar uma bolada com este projeto. Aqui está mais um motivo pelo qual John Markoff queria se vingar de mim.

Na época em que Cyberpunk foi publicado, Markoff mantinha correspondência ativa com seu amigo Shimomura por e-mail. Estranhamente, ambos estavam interessados nas minhas coisa e no que eu fazia. Surpreendentemente, uma das mensagem tinha informações de que ficaram sabendo que eu frequentava a Universidade de Nevada, Las Vegas, e que podia utilizar o laboratório de computadores para estudantes. Será que Markoff e Shimomura estavam interessados em escrever outro livro sobre mim? Se não fosse isto, porque estavam se preocupando comigo?

A perseguição de Markoff

Volte um pouco até o fim de 1992. Eu estava quase no fim da minha liberdade condicional por ter comprometido a rede corporativa da Digital Equipment Corporation. Enquanto isto, fiquei sabendo que o governo estava tentando compor outro caso contra mim, este por ter praticado contra-inteligência para descobrir porque escutas telefônicas haviam sido colocadas nas linhas telefônicas de uma firma P.I. em Los Angeles. Nas minhas procuras, confirmei minha suspeita: o pessoal da segurança da Pacific Bell realmente estava investigando a firma. O mesmo estava sendo feito por um delegado de crimes por computador do County Sheriff's Department de Los Angeles (este delegado, coincidentemente, era irmão gêmeo do meu co-autor neste livro. Que mundo pequeno). Nesta época, os federais prepararam um criminoso informante e mandaram que me armasse uma cilada. Eles sabiam que eu sempre tentava ficar de olho em qualquer agência que estivesse me investigando. Assim, pediram ao informante que fizesse amizade e me avisasse que eu estava sendo monitorado. Ele também compartilhou comigo os detalhes de um sistema de computador usado pela Pacific Bell, que eu poderia usar como contra-espionagem neste monitoramento. Quando descobri o golpe, virei o jogo rapidamente entregando o informante por fraude com cartões de crédito, o que ele estava fazendo enquanto trabalhava para o governo. Tenho certeza de que os federais gostaram um bocado! Minha vida mudou no Dia da Independência, 1994, quando meu pager me acordou pela manhã. O remetente dizia para eu pegar imediatamente um exemplar do New York Times.

Mal consegui acreditar quando vi que Markoff não só tinha escrito um artigo sobre mim, mas que o Times o havia colocado na primeira página. O primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi sobre minha segurança pessoal - agora o governo aumentaria substancialmente os esforços para me encontrar. Fiquei aliviado que, num esforço de me demonizar, o Times havia usado uma foto inapropriada. Não tive medo de ser reconhecido; eles escolheram uma foto tão fora de época que não se parecia nem um pouco comigo! Quando comecei a ler o artigo, percebi que Markoff estava se preparando para escrever o livro Kevin Mitnick, coisa que sempre desejou. Eu simplesmente não conseguia acreditar que o New York Times se arriscaria a imprimir ss declarações notoriamente falsas que ele havia escrito a meu respeito. Me senti impotente. Mesmo que estivesse numa posição para responder, certamente não teria uma audiência igual à do New York Times para rebater as mentiras deslavadas de Markoff. Apesar de concordar que eu tenha sido intragável, nunca destrui informação nem usei ou tornei públicas qualquer informação obtida. As perdas das empresas com minhas atividades hacker compreendem apenas as chamadas telefônicas que fiz às custas das empresas de telefonia, o dinheiro gasto pelas companhias para corrigir as falhas de segurança que meus ataques revelaram e, possivelmente em algumas ocasiões, ter causado que as companhias re-instalassem seus sistemas operacionais e aplicativos porque temiam que eu pudesse ter modificado o software para facilitar futuros acessos.

Estas empresas continuariam vulneráveis a estragos muito maiores se minhas atividades não as tivessem alertado sobre os elos fracos nas suas cadeias de segurança. Apesar de ter causado algumas perdas, minhas ações e intenção não foram maliciosas... e aí John Markoff alterou a percepção do mundo do perigo que eu representava. O poder de um repórter sem ética de um jornal de tamanha influência escrever uma história falsa e difamatória sobre qualquer pessoa deveria assustar todos e cada um de nós. O próximo alvo pode ser você.

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