A Aldeia Numaboa ancestral ainda está disponível para visitação. É a versão mais antiga da Aldeia que eu não quis simplesmente descartar depois de mais de 10 milhões de pageviews. Como diz a Sirley, nossa cozinheira e filósofa de plantão: "Misericórdia, ai que dó!"

Se você tiver curiosidade, o endereço é numaboa.net.br.

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EcoAldeia

Alarme 24 hs grátis

Dom

3

Ago

2008


15:43

(8 votos, média 4.50 de 5) 


Um dos pássaros mais barulhentos e encrenqueiros que temos por aqui são os quero-quero. Tem gente que não gosta deles (principalmente caçadores e pescadores clandestinos) porque, seja de dia ou seja à noite, qualquer coisinha diferente que aconteça no território delas faz com que estas aves soltem seus pios estridentes que podem ser ouvidos de longe.


Quero-queroA coisa é ainda pior quando estão com filhotes. Aí é que ficam bravos de verdade e, além de toda a algazarra, avançam sobre o "inimigo" em vôos rasantes ou correndo com as asas estendidas para mostrar os esporões. Apesar de todo o estardalhaço, estas investidas quase nunca dão em nada - mas é bom não facilitar. O Anderson Falcoeiro me contou que um dos seus falcões foi ferido com alguma gravidade quando investiu contra um quero-quero que acabou levando a melhor.

Esta espalhafato dos quero-quero faz com que funcionem como um sistema de alarme perfeito: estão de prontidão 24 horas por dia, 7 dias por semana. Tem coisa melhor do que esta? Temos quero-quero na entrada da fazenda, em vários pontos do pasto e perto do ribeirão. É só prestar atenção na "conversa" deles para que se saiba onde alguma coisa diferente está acontecendo smile

Digo "coisa diferente" porque os quero-quero são barulhentos, mas não são histéricos. Por exemplo, estão acostumados com o gado e os cavalos; também estão acostumados com as capivaras na beira do rio, por isso não perdem tempo gritando quando as vacas fazem seus passeios ou quando as capivaras resolvem jantar milho novo perto do ribeirão. Aliás, uma curiosidade: as capivaras aprenderam a ouvir os quero-quero e se escondem rapidinho quando ouvem qualquer alarme. Agora, um movimento estranho, como a aproximação de algum predador perigoso, é motivo para a coisa pegar fogo. Como o maior predador da natureza é o homem, adivinhe o que acontece quando tem gente estranha passando...

Em vôoTambém tenho uma contribuição pessoal para esta história. Acreditem ou não, estas aves também botam a boca no trombone quando um veículo desconhecido transita pela estrada de acesso à fazenda. Como foi que cheguei a esta conclusão? Da mesma forma que as capivaras :blush:

Faço este caminho quase que diariamente e os quero-quero que estão na beira da estrada não se dão nem ao trabalho de sair voando quando passo. Um belo dia, depois de trocar meu carro que já estava na terceira idade, chego no final do dia com um veículo novinho, logicamente desconhecido do "povo guardião". Foi só apontar na estrada que os "guardas" começaram a fazer um barulhão usando um "tom de voz" diferente do habitual. Mais do que isto, um deles começou a dar uns rasantes pra cima do carro e foi me "espantando" até considerar que a distância em que eu estava era segura para ele. Mas a coisa não parou por aí. Lá veio o próximo casal e fez o mesmo escarcéu. "Ahá!", pensei eu, "aqui deve ser o limite dos territórios deles!". Resumindo, o carro "predador" chegou em casa depois de diversos ataques de quero-quero. Quer queira, quer não, achei isto uma entrada triunfal para meu novo possante e um chamado para aguçar minha curiosidade. Resolvi dar uma estudada para entender melhor estes pássaros-alarme.

Algumas características

  • Nome comum: quero-quero
  • Outros nomes: tetéu, téu-téu, terém-terém e espanta-boiada. Southern Lapwing (em inglês), tero común (em espanhol), abibe-do-sul (em Portugal)
  • Nome científico: Vanellus chilensis
  • Classificação: Classe Aves, Ordem Ciconiiformes (anteriormente chamada de Charadriiformes), Família Charadriidae, Gênero Vanellus, Espécie V. chilensis

Quero-quero no jogoO quero-quero é uma ave típica da América do Sul, com uma distribuição geográfica muito extensa: é encontrado desde a margem direita do baixo Amazonas, no Brasil, até o leste da Bolívia e a Argentina. Habita em campinas e espraiados de rios e lagoas.

Caracteriza-se pelo colorido geral cinza-claro, com ornatos pretos na cabeça, peito e cauda. A barriga é branca e as asas têm penas de cor verde-metálico. Apresenta um penacho na região posterior da cabeça. O bico, os olhos e as pernas são avermelhadas. Tem um par de esporões ósseos de 1 cm no encontro das asas.

Mede em torno de 37 cm de altura e pesa menos de 300 g. Não há dimorfismo sexual, ou seja, só de olhar de longe não dá para saber se é um macho ou uma fêmea.

O quero-quero se alimenta de invertebrados aquáticos e peixinhos que encontra na lama. Para capturá-los, agita a lama com as patas para provocar a fuga de suas presas. Também se alimenta de artrópodes e moluscos terrestres. Vôo de ataque

Ninho de quero-queroO quero-quero não é um grande arquiteto, pois seus ninhos não são lá aquelas coisas. Os ovos são postos durante a primavera em um ninho feito no solo. Para não rolarem, os ovos têm um formato semelhante a um pião. A casca é pintada com manchas escuras que favorecem a camuflagem em meio à grama alta. Os pais protegem o ninho e os filhotes. Uma das táticas adotadas pela ave é fingir estar ferida quando algum intruso se aproxima do ninho. Outra tática é ir se afastando, levando para longe eventuais agressores. O macho é agressivo e ataca qualquer criatura que ofereça perigo, incluindo seres humanos.

A preocupação e a agressividade é compreensível se levarmos em consideração que os ninhos, por estarem no solo, são muito vulneráveis. Não é à toa que o bicho grita e esperneia a qualquer sinal de perigo.

A quinta semana de vida é crítica para os filhotes, pois é quando os pais resolvem que está na hora dos "filhos" encararem a vida por conta própria. Nesta fase os filhotes têm uma espécie de "crise da adolescência" e a maioria deles se descuida da higiene e de cuidados básicos como tratar das penas, procurar alimento e zelar pela própria segurança (qualquer semelhança é mera coincidência!). O resultado destes descuidos reduz a população de filhotes em mais de 50%.

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