O bandido das enchentes

Sex

22

Mai

2009


00:45

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O nome do empresário Ismael Ratzkob, de Rio Negrinho, apareceu anteontem quase tantas vezes nos jornais quanto o nome do deputado Carli Filho que dirigindo bêbado e sem carteira após mais de 30 multas e 130 pontos na habilitação foi o responsável pela morte de dois rapazes em Curitiba em um acidente de carro. Mas o crime do pequeno empresário de Rio Negrinho não tem nada a ver com ameaçar vidas, foi o de vender roupas e alimentos que, segundo diz a caçadora de verdades a imprensa, foram desviados da prefeitura de Ilhota, das doações feitas às vítimas da enchente de Santa Catarina no ano passado. Olha bem, não quero dar uma de advogado do diabo, mas antes de ficar indignado com o coitado que foi preso, convém saber algumas coisas.

Antes, é bom eu deixar claro que desconheço totalmente o fato, sei tanto quanto você que apenas assistiu o jornal quando chegou em casa na terça-feira. Ou seja, não fui nem a Rio Negrinho nem a Ilhota, não conheço o sujeito nem conheço alguém que conheça o cara (o de Rio Negrinho, não o Lula). Mas quero falar por referência como alguém que também mora em uma cidade que apanhou das enchentes em 2008 no mesmo estado e também foi acolhida por tanta gente solidária que apressou-se em contribuir para minimizar as dores que a catástrofe distribuiu por aqui. Então, aqui em Itapoá, passadas as enchentes, ginásios de esportes e igrejas ainda estavam tomadas por muito material de doações. As igrejas rapidamente distribuíram as sobras entre seus membros ou entre a população e fim de conversa. Mas a prefeitura estava num empenho logístico gigantesco aqui porque o ginásio de esportes, que deveria estar livre para o início das aulas de 2009, estava entulhado de doações (não tou exagerando, eram morros de colchões, roupas, água mineral, comida, sapatos e tudo o que alguém pode querer doar para vítimas de enchentes) e a prefeitura não tinha para quem doar aquilo. É, não tinha. Porque por uma questão legal burocrática, o que entrou como doação para vítimas de enchente não pode ter outro rumo, ou isso seria um desvio de material. A solução poderia ser uma doação formal para outro lugar que estivesse precisando deste material, por exemplo que tivesse vítimas de enchentes (o nordeste, no momento, é um caso), mas para isso o novo recebedor precisaria se responsabilizar em vir buscar e isso tem um custo alto. Enquanto ninguém recebe e não se tem para quem doar, a prefeitura tem um custo de logística e armazenamento que normalmente é perdido, porque o material pode estragar com o tempo e simplesmente ter que ser jogado fora.

Enfim, voltando ao Seo Mael de Rio Negrinho. Sim, o sujeito tava tirando um com o que não era dele. Mas transformar isso em notícia nacional é que é o verdadeiro crime. Ele não tirou das vítimas, aquilo é sobra de doação que não tinha para onde ir e estava gerando custos. Ele teve que fazer o transporte daquele material, retirar dos galpões da prefeitura e armazená-los em algum lugar. Vendendo a R$ 1 cada peça como estava fazendo, uma boa parte do material inicialmente iria apenas cobrir os custos que teve. É errado? É, sim. Doação é doação, e material público é material público; ele não poderia se apropriar nem de um nem de outro. Era o caso sim de ser chamado a dar explicações, devolver, ser penalizado (com serviços sociais, no máximo). Mas fazer parecer que o homem tirou doce da boca de criança, deixou morrer para lucrar, é coisa que só jornalista faz, a audiência acima das vidas quem se importa com o que será deste homem depois dessa exposição toda? Putz grila.

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