Eu já te disse

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Categoria: dalton

Atualização: Quarta, 20 Janeiro 2010 22:19

Autor: Dalton Sponholz

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A comunicação é um dos atributos mais impressionantes das pessoas. Não que não ocorra comunicação entre outros seres vivos de forma ferramental, que transforma a interação social em um sistema, onde cada indivíduo tem seu papel como uma engrenagem em uma máquina (por exemplo, a comunicação entre as formigas serve para que encontrem alimento, conheçam o caminho de ida e de volta, e saibam o que fazer com ele) mas a comunicação entre gente é mais que isso; é a tentativa de transferir conhecimento, de traduzir a imaginação, de gerar idéias, de criar em coletividade, de demonstrar sentimentos, emoções e afeto, de expressar o universo individual, de apresentar o eu de cada um, e de construir relações, já que gente é o único tipo de criatura que pode escolher baseada em mais que instinto se aproxima com motivos racionais e emocionais, além de químicos e intuitivos, e constrói relações encaixando planejamento de vida à interação.

E é impressionante também como é individual a linguagem. Mesmo pessoas que falam o mesmo idioma compreendem de forma única cada palavra. A história de cada um, suas experiências, seus traumas, sua personalidade, seus gostos, seus machucados, suas vontades, tudo influencia na sua interpretação do que ouve e em sua versão do que fala. Por isso tantas vezes duas pessoas, mesmo que se gostem muito, sentem-se ameaçadas uma pela outra ou têm atritos que mal compreendem simplesmente falam, repetem eu já te disse que isso, eu já te disse que aquilo, e não se comunicam, porque as frases foram ditas e ouvidas, mas a compreensão que cada um tem das mesmas frases não corresponde à mesma realidade. Cada um enxerga de dentro de seu eu interior seu próprio universo e o descreve de forma sincera, como o que está vendo, mas o outro que escuta não vê o mesmo cenário psicológico, apenas pega as palavras e associa-as ingenuamente às referências que tem em seu universo próprio, que é de outra cor e tem outros aromas e que pode levar a uma visão bem diferente da mesma descrição. Por isso é tão importante o uso das línguas universais, como o afeto, o carinho, o sorriso, as lágrimas a aceitação e a oferta de segurança. Racionalizar o conteúdo do coração é sempre perigoso.

Mas tem ainda o fato de que a comunicação não se dá só em nível de palavra nem só em nível de razão. A comunicação não-verbal não é tão levada a sério, mas é talvez ainda mais importante que a linguagem. Cada gesto, expressão facial, movimento, piscada, aproximação, afastamento, presença ou ausência, som ou silêncio pode ser interpretado com diversas nuances de significado na interação entre pessoas. Uma não-resposta pode significar um sim (quem cala consente, diz o ditado) ou um não (faltou coragem pra negar). E o sim ou não também é lido por alguém que ficaria em silêncio talvez em situações diferentes. Você tá me entendendo?