Aleluia!

Sex

14

Nov

2008


00:51

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Fico arrepiado ao ver o quanto a maioria das pessoas parece cética aos pequenos sinais que as rodeiam. Um tom mais alaranjado na coloração do céu, a altura das ondas do mar um pouco mais exagerada, uma revoada de um tipo diferente de passarinhos, acho que as pequenas coisas não chamam mais a atenção. Todos sabem quem é o Lindembergue que matou a Eloá (talvez até se o espalhafato não tivesse sido tão sensacionalisticamente apresentado a menina tivesse tido a chance de continuar a trajetória), todos sabem que existe uma crise econômica mundial, e sabem até quem é o Zé Bob. Mas quem sabe dizer quando viu a última estrela-cadente, reparou nas flores dos jardins dos vizinhos ou no formato das nuvens da tarde de hoje?

Quando eu era criança lembro que a Lúcia (que dentre diversas funções na minha casa era também como minha babá) chamava de aleluias uns insetos marrons de asas compridas transparentes que voavam de montão formando uma nuvem em cima do mato crescido no quintal no final da tarde. Era um pouco agoniante passar naquela parte do quintal porque, se mexesse no mato, mais aleluias levantavam e se ficava rodeado daquela nuvem de insetos. Pois semana retrasada, mediante uma caminhada gostosa sob o sol e o céu azul, andando para a igreja evangélica que frequento, no domingo, no final da tarde, fui surpreendido por ruas tomadas de aleluias como aqueles do quintal. Há trinta e quatro anos morando neste bairro, nunca vi algo como aquilo. Foram mais de quatro quilômetros de companhia de aleluias por todos os lados, vindo de todas as ruas, de todas as direções, espalhados pelo chão e pelo ar (aleluias a caminho da igreja? Sabe que só agora notei a ironia? hehehe). Não sei se o motivo da invasão tem algo a ver com a remodelagem urbana que a cidade está sofrendo (é possível que a prefeitura de Curitiba tenha aproveitado o domingo para remover grandes quantidades de mato da futura Linha Verde, o que desabrigaria os insetos forçando-os a migrar para outros lugares passando pelas ruas dos bairros circunvizinhos), nem sei se há motivo, mas muito mais surpreso do que com a estranha quantidade de insetos à minha volta eu fiquei com as pessoas que andavam conversando entre si como se nada estivesse acontecendo. Como ignorar um fato tão diferente, e tão extenso?

Eu sou um sujeito urbano que jogava videogame na adolescência e vê televisão, mas acho que as coisas estimulantes que não existem (estas dos games, da TV e da internet) andam roubando as coisas que existem, que deveriam ser estimulantes justamente por existirem. As emoções apimentadas oferecidas pela ficção (ou mesmo pela realidade maquiada dos noticiários e documentários) estão fazendo parecer insossos os sabores do quotidiano acessível à mão e aos olhos?

Peguei carona com a Ane em um dia de chuva, e ela reparava no ruído dos pingos de chuva no pára-brisa, curtindo-os como se fosse música tanto que não ligava o limpador, dirigia devagar pra enxergar com o vidro molhado. Eu mesmo nunca tinha reparado, tão discreto e suave que é. E que relaxante é. Tem tanto prazer espalhado por aí, que às vezes tenho a sensação de que vivo em um baú de tesouros, mas parece que muita gente que vive aí sonha em sair sem se dar conta de onde está e do que tem.

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